Um de meus melhores amigos queixa-se de que tem tido azar com as mulheres. De uns tempos para cá, só tem deparado com autoritárias pretensiosas que, mal o conhecem, já querem mudar o jeito dele. Uma delas, na primeira vez em que saíram juntos (repito: primeira vez), expressou a vontade de fazer meu amigo parar de fumar e implicou com a maneira como ele dança. Outra, também no primeiro “rolê”, insistiu para que ele trocasse a camiseta antes de sair (não, ele não estava vestindo uma peça suja nem rasgada nem fora de moda).
Ele se sente incomodado. Não é para menos. O que leva uma pessoa a aproximar-se de outra se não a aprecia como é? O que a faz tomar a liberdade de exigir mudança — mesmo que seja de roupa — de quem acabou de conhecer? De onde vem essa ousadia? De onde vem essa prepotência? Meu amigo tem autoestima, então se recusa a ceder aos caprichos de seus “contatinhos”. Afasta-se das “minas” que se comportam como se fossem patroas. Mas lamenta a reincidência de tipos assim em sua vida, pois quer encontrar quem lhe valorize como é.
Ouvi atentamente seu desabafo. Em seguida, fiz a ele perguntas simples apenas para confirmar minhas impressões.
— Você gosta de ser como é?
— Sim.
— Gostaria de mudar para agradar a alguém?
— Não.
— Prefere não namorar a adotar outro jeito de ser?
— Até agora, tem sido assim, mas não sei se eu estou certo.
É a hora em que ele me pergunta:
— Será que eu não deveria aceitar certas imposições em troca de um relacionamento? Afinal, algumas dessas minas são interessantes.
Ele me deixou numa sinuca de bico. Por um lado, talvez exista uma mulher incrível por trás de um tipo mandão. Sabe-se lá! Por outro, cabe a desconfiança: se ela se mostra autoritária no primeiro encontro, será que não se converterá em uma tirana dentro de um mês? Meu amigo tem optado por não correr esse risco, e concordo com ele.
O que fazer?
Minha sugestão é ter paciência. Vou além e esboço o seguinte discurso.
— Cara, penso assim: seu jeito é seu filtro. Só se aproxima e fica com você quem gosta do seu estilo, valoriza você exatamente como é. Quem quer mudar você não quer alguém como você. Quer um corpo que sirva de marionete. Quer um fantoche. Quer uma massa de modelar. Se você demonstra gostar de si mesmo tal como é, você automaticamente afasta quem não combina com você.
Simples assim. Óbvio assim. E ele concordou comigo. Lamenta o que ele chama informalmente de azar, mas segue de cabeça erguida. Menos mal. É inteligente, instruído, generoso, confiável, jovem e bonito. Por que não encontraria sua “cara-metade”? Questão de tempo. Estou seguro disso. Não precisa se sujeitar a mandos e desmandos de quem mal o conhece.