Estava com um amigo em um bar. A conversa fluía. Eu jamais poderia imaginar que, poucas horas depois, estaria em um hospital, gritando de dor. O plano era outro. Sairíamos do bar, passaríamos em minha casa para eu tomar banho e trocar de roupa e de lá iríamos a uma festa. No dia seguinte, eu não precisaria trabalhar. A noite prometia.
Deu tudo errado. Saí do bar com dores abdominais. Achei que fosse estômago. Enquanto dirigia, as dores ficavam cada vez mais intensas, até o ponto de eu conduzir o carro com a coluna ereta, afastada do banco. Meu amigo ficou assustado, mas logo chegamos. Em casa, tomei um Engov. As dores persistiam. Deitei-me no sofá da sala. A ideia era esperar o comprimido surtir efeito.
Meu amigo logo se deu conta de que aquelas dores não eram estomacais. Desconfiou de que pudessem ser o sintoma de algo grave e me convenceu a buscar a emergência de um hospital. Lá fomos nós, agora de Uber, pois eu não tinha mais condições de dirigir.
O médico de plantão precisou me atender antes do previsto, pois comecei a gritar na sala de espera. Alguns toques no corpo e algumas perguntas depois, ele já arriscava um palpite: cálculo renal. Receitou medicamento intravenoso para as dores e pediu exames. O efeito do remédio durou menos de 30 minutos. Enquanto eu esperava a ressonância magnética, caí no chão de tanta dor e, minutos depois, vomitei até a alma no banheiro mais próximo.
Felizmente, o resultado saiu em menos de uma hora. Infelizmente, confirmou o diagnóstico para pior: eu tinha duas pedras nos rins, uma de pouco mais de 4 milímetros e outra de aproximadamente 1 milímetro. A maior era a causa das dores. O urologista de plantão chegou bem depois para me dizer que eu não precisaria de cirurgia, pois cálculos com menos de 6 milímetros dispensam intervenção cirúrgica, uma vez que o organismo pode expeli-los naturalmente. Saí do hospital de madrugada com a receita médica e o alívio de ao menos saber o que eu tinha.
Mal previa eu que minha via crucis estava só começando. Viriam dias de mal-estar, incômodo, angústia, irritação. O medicamento para as dores atacou intestino e estômago de uma só vez. Resultado: náuseas. Perdi o apetite. Consequentemente, fiquei debilitado. Tive também crises de dor de cabeça – verdadeira tortura. Adeus planos para o fim de semana prolongado! Adeus barzinho! Adeus festa (eu tinha ingresso comprado para uma)! Adeus malhação!
Até agora, quando redijo este texto, a pedra maior não saiu. Na semana passada, achei que tivesse saído. As dores passaram. Interrompi a medicação. Um amigo, que sofre de cálculo renal há anos e tornou-se especialista no assunto, me deu a triste informação de que a pedra, ao se movimentar dentro do corpo, pode aliviar as dores por alguns dias. Doce ilusão! Tudo indica que ela continua a fazer estragos em mim.
Tomo chá de quebra-pedra com os remédios alopáticos. Bebo água o dia inteiro. As dores vêm, ficam pouco e vão embora. O estômago e o intestino funcionam mais ou menos dentro da normalidade. Até dias atrás, estavam desregulados. De uma hora para outra, sinto náusea. Não parei de trabalhar. Aprendi a conviver com o incômodo. Bem… Não sei se aprendi. Estou me virando como posso. A vontade é de correr ao hospital e pedir, por favor, para retirarem essa maldita pedra de dentro de mim.
O mais curioso é que, a despeito de todos os efeitos colaterais dos remédios e dos distúrbios que o cálculo provoca no corpo, sinto pernas e braços fortes. Voltei a fazer exercícios — ainda bem leves. O sistema nervoso e o cérebro parecem estar bem, embora eu ainda sinta alguma irritabilidade e a memória falhe com mais frequência.
A descoberta de que tenho pedras nos rins foi surpreendente, pois eu vinha me sentindo fisicamente em forma. Prova de que tudo pode mudar de repente. Daí eu escrever este texto. Serve de alerta para quem, como eu, nada sabia sobre cálculo renal e, de repente, descobriu-se com dois. No meio do caminho, tinha uma pedra que mudou o curso de uma noite, um fim de semana, um mês e, talvez, uma vida.