Sabrina decidiu ser amante de um homem casado. Eu quis logo saber por quê. Seguem os principais argumentos dela:
- Homem casado não pega no pé.
- Ela poderia continuar a se divertir aos fins de semana como bem entendesse.
- Não teria expectativas demais, portanto menos estresse.
- Sairia para se divertir mais relaxada, pois não estaria preocupada com encontrar alguém (de novo: menos estresse).
Ela não me convenceu. Ponderei o seguinte:
- O fato de ser casado não impede um homem de ser ciumento. Portanto, ele poderia, sim, ficar no pé dela. Poderia até chegar ao cúmulo da incoerência de exigir fidelidade da parte dela. Já ouvi falar de casos assim.
- De fato, ao se relacionar com um homem casado, ela dificilmente teria a companhia dele todos os fins de semana, mas nada o impediria de tentar controlar a vida dela à distância. Se fosse possessivo, ela não teria a liberdade que espera.
- Como pode ela afirmar hoje que não teria expectativas em relação aos dois? Não haveria o risco de ela se apaixonar? Nesse caso, haveria ainda mais estresse.
- De fato, ela poderia sair para se divertir mais relaxada, pois não teria, em tese, a preocupação de conhecer alguém – fosse para uma noite de sexo apenas, fosse para uma relação mais duradoura. No entanto, na hipótese de ela se envolver muito com o homem casado, talvez ela não estivesse livre de estresse, pois poderia passar o tempo todo pensando nele, imaginando como seria se estivessem juntos e lamentando o fato de ele estar com a esposa.
Diante de meus contrapontos, Sabrina reconsiderou a ideia por algum tempo, para logo depois voltar à carga. Admitiu que poderia quebrar a cara, mas que estava disposta a correr o risco. Queria aventura. Queria ter essa experiência. Sentia que poderia valer a pena. Conhecia exemplos de amigas que tinham se dado bem e de outras que tinham se dado mal ao se relacionarem com homens casados. Estava cansada de não ter parceiro fixo, de procurar namorado e não encontrar. Foi quando me dei conta de que, para estar tão convencida assim, Sabrina já deveria ter alguém em mente.
Tinha. Conheceu o sujeito na fisioterapia. Sabrina torcera o joelho havia cerca de um mês. O fisioterapeuta é casado, mas isso não impediu que os dois trocassem olhares e números de celular. O que deveria ser uma simples relação entre paciente e fisioterapeuta logo virou paquera. Quando se abriu comigo, Sabrina estava no auge da dúvida e do interesse no rapaz. Ainda não tinham ido para a cama. Ela me garantiu: “Só um beijo e uns toques mais fortes dentro do carro dele”.
Não julguei nem julgo Sabrina, tampouco lhe dei conselho. No começo da conversa, assumi o papel de advogado do diabo. Depois, apenas ouvi o que ela estava louca para me dizer. Confiou em mim. Costumo ser digno de confiança. Sabrina tem certeza de que não revelarei seu segredo a ninguém, independentemente de sua decisão.
Antes que as leitoras e os leitores me acusem de incoerente – “Ora, você não está revelando tudo aqui! Que tipo discreto e de confiança é você?” –, um lembrete: uma das categorias deste blog é NARRATIVAS FICCIONAIS. Não tenho amiga chamada Sabrina (somente uma conhecida distante, que nunca viveu algo parecido, ao menos que eu saiba), tampouco qualquer outra em situação semelhante. Criar histórias é um de meus passatempos favoritos. Até o próximo post (seja verdade, seja ficção)!
Esses argumentos dela são furados. Ela continuaria sozinha, mendigando atenção de alguém e ainda “impossibilitada” de conhecer um cara legal. Sem falar que essa energia da traição é muito ruim para a mulher.
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