Dane-se a pressa de hoje! Dane-se o cinismo atual! Não olho o passado em busca do presente. Olho o passado pelo próprio passado. E ele me encanta às vezes. Nas artes, quase sempre. No cinema, então!
Não ligo se os filmes de agora têm mais recursos, se o ritmo é mais célere, se as tramas são mais sofisticadas, se os efeitos especiais se refinaram. O que conta para mim é o que se conta: a história, e os atores e atrizes por trás delas.
Se há colorido ou somente preto e branco é o de menos. Não faço questão de 3D nem mesmo de HD. Assim não fosse, não leria romances. Aliás, eles seduzem milhões há séculos com nada mais que papel e tinta (em termos de recursos materiais apenas, é claro).
Será mesmo evolução o uso da tecnologia? Não seria apenas mudança? Onde está o avanço? No suporte, na recepção, na multiplicação, na velocidade… Sim! Na essência? Tenho cá minhas dúvidas.
Por isso, amo os clássicos, seja nas letras, seja nos palcos, seja nas telas, seja onde for. Sim, eu sei que o clássico pode estar na estréia da semana! Não desprezo o novo, menos ainda o inovador. Meus clássicos favoritos foram novos e inovadores um dia. Por isso também, sobreviveram e hão de permanecer. É que respeito o escrutínio do tempo. Respeito a distância temporal pelo bem do juízo. O que permaneceu, o que sobreviveu, valor tem. Ainda que seja somente histórico. E há o fadado ao esquecimento, ao instantâneo. É natimorto. Olhos perspicazes logo o identificam. Não vinga.
Há, todavia, a promessa. Incerta, ela nada garante. Pode ser mero ludíbrio, mas também pode ser algo novo destinado ao eterno. Como saber? Intui-se. Estuda-se. A experiência ajuda. Certeza mesmo ninguém tem. Espera-se e, de novo, o tempo, melhor dos juízes, bate o martelo. É ou não é. Fica ou vai.
Meio preguiçoso, um tanto indolente, gosto quando o tempo faz o serviço por mim. Recebo tudo pronto, a obra-prima, a peça consagrada. Deleito-me, então. Confesso que, aqui e ali, resiste em mim a presunção do juízo: será que o tempo acertou? Quem sou eu para julgar? Volto à realidade e convenço-me de que o passado tem seu peso, sua sabedoria.
Da viagem no tempo, retorno mais seguro. Não sei por quê. Talvez por compreender melhor o que se faz hoje. Talvez por identificar no presente os traços e marcas do passado. Talvez por enxergar nos olhos do neto o olhar do avô. Fato é que os clássicos me encantam.
Um momento! Seria por que receio a morte? Seria por que a eternidade me seduz? Improvável. Conscientemente, não temo a morte, e a eternidade me assusta. Mas inconscientemente, no que talvez seja minha natureza humana, não haveria esse desejo de perenidade, de estabilidade, de permanência?
Algo no mundo – a beleza – sobrevive à pressa e ao cinismo. Isso me conforta. E basta.