O filme “Elysium” foi, para mim, um ótimo passatempo. Não pisquei nem uma vez sequer enquanto Max (Matt Damon) tirava leite de pedra para sobreviver e, de quebra, salvar a vida de uma garotinha com câncer na segunda metade do século 22. Gosto de ficções científicas. Distopias, então, mais ainda!
Pena que “Elysium” tenha deixado em mim a sensação de que a história poderia ter ido mais fundo. A tal estação orbital que dá nome ao filme de Neill Blomkamp, por exemplo, despertou minha curiosidade: o que mais guardava aquele condomínio de luxo, onde uma máquina pode curar qualquer tipo de doença? Somente um punhado de ricaços egoístas? Queria mais informação, detalhes. Nada.
Onde se originou a vilania da secretária de governo Delacourt (Jodie Foster)? Não fica claro. Aliás, há quase nada sobre ela no filme. A personagem, que lembra um pouco a atual diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, está praticamente solta na trama. Valoriza-se pouco até mesmo sua perversidade, ao ponto de Delacourt tornar-se repentina e surpreendentemente descartável.

Se as utopias podem despertar alguma esperança na humanidade, as distopias permitem refletir sobre o que pode dar (ou está dando, ou já deu) errado. “Elysium” ficou devendo mais essa – e acho que tinha potencial para mais. Não explorou o quanto podia as razões para o fracasso dos humanos representados na trama. Investiu na estória, mas não na História (ainda que fosse uma história ficcional).
Nada impede, porém, que o espectador faça a parte dele. Por divertimento e talvez seguindo as pistas que o próprio filme dá, tracei um paralelo entre a Terra retratada em “Elysium” e o mundo atual.
A Los Angeles da ficção lembra uma imensa favela, dessas que a gente está acostumado a ver no Brasil. A estação orbital Elysium é um típico condomínio de luxo, semelhante àqueles que as imobiliárias não param de anunciar na TV – inclusive no nome, que geralmente remete à idéia de paraíso, como os próprios Campos Elíseos ou o Jardim do Éden. No fundo, o filme só redimensiona (para mais) e transporta ao futuro o que já ocorre neste começo do século 21.

O fim do filme (não vou entrar em detalhes, claro) é simultaneamente feliz e triste. E não dá para saber se a distopia vai se converter em utopia depois que… Bem… Prometi não entrar em detalhes. A verdade é que, se fosse um texto escrito, “Elysium” teria muitas reticências. Permite-se várias lacunas, diferentemente de distopias clássicas como “Zardoz” ou a mais recente “Matrix”.
Mas não sou do tipo que perde horas tentando se colocar no lugar do roteirista e do diretor dos filmes. Aceito bem o fato de ir ao cinema e me divertir, sem pretensões intelectuais mais ambiciosas, especialmente quando estou ciente de que o filme é assumidamente comercial. Foi divertido. Valeu.
Next, please!
tenho alguns comentários que prefiro tecer na mesa do ernesto. mas enquanto diversão descompromissada de domingo foi ótimo!
ab.