O Brasil está em alta lá fora. É o que dizem meus amigos que moram nos Estados Unidos e na Europa. É o que a imprensa vem noticiando por aqui. Parece que o gigante adormecido finalmente despertou.
Aliás, é justamente essa a imagem que o comercial do uísque Johnnie Walker explora muito bem. A agência publicitária que fez esse anúncio para a TV soube captar o espírito da hora e, espertamente, adula o ego dos brasileiros: “Keep walking, Brazil!”
Sinal dos tempos?
Outro comercial de TV prefere mostrar o ídolo da bola Neymar esnobando a oportunidade de jogar fora do Brasil. Para quê? Ele tem tudo aqui! Principalmente sol e praia.
Mais um anúncio exibe uma praia brasileira lotada e, entre os veranistas, ninguém menos que o ator Rodrigo Santoro – hoje galã também em Hollywood – acompanhado de um amigo, provavelmente americano. Santoro o alerta para a malandragem dos vendedores ambulantes e acaba ele próprio comprando de um deles um par de Havaianas. Nada mais, pois só as Havaianas são legítimas. Como se sabe, essa marca de chinelos de borracha tem feito enorme sucesso fora daqui. Um par delas – de preferência com a bandeirinha do Brasil – custa caro na Europa.
Já a peça publicitária da Pepsi escolheu brincar com o inglês macarrônico do técnico Joel Santana. No comercial de TV, ele é convidado a ajudar dois rapazes a abordar duas jovens estrangeiras porque, ali na praia, Santana é o único intérprete disponível. O comercial da Pepsi na verdade estabelece identidade entre o refrigerante e o técnico. Se não há um intérprete melhor, pode ser aquele mesmo, e ele resolve. Em outras palavras: em vez de se constranger diante da vitória da concorrência, a Pepsi brinca com (e capitaliza) o próprio segundo lugar entre os sabores cola.
No Brasil, é comum o garçom perguntar a quem pede uma Coca-Cola: “Só tem Pepsi. Pode ser?” A fábrica de refrigerantes, então, longe de mostrar Santana constrangido por ter um inglês ruim, adula os brasileiros com um simpático recado, inspirado no próprio slogan do produto: mesmo se você não tiver inglês impecável, ou seja, mesmo que seu inglês não seja aquela Coca-Cola toda, você é brasileiro, então você dá um jeitinho. Ou seja, você pode ser você mesmo, tal como Santana, que resolve o problema, apesar do inglês abrasileirado, e as gringas acabam “dando mole” para os brasileiros monoglotas. Satisfeito, o técnico pede: “Me vê uma Pepsi! Pode to be?”.
A se basear na publicidade, o Brasil está mostrando outra face. Não mais a face colonizada, submissa, envergonhada, mas a face segura, autoconfiante, risonha. É o gigante que se ergue do chão e sabe que tem longo caminho pela frente. Mas, agora de pé, valoriza o produto nacional – como seus chinelos –, zomba das próprias limitações – como seu inglês macarrônico – e dá um jeito de superá-las. Pode ser? Pode ser!
Que assim seja!