Se dependesse de mim, ninguém envelheceria. Eu disse “envelheceria”, não “amadureceria”. Gosto muito da ideia de amadurecer, mas a decrepitude me apavora, por uma longa série de motivos, que não vêm ao caso neste instante.
Se dependesse de mim, a Terra seria uma imensa Shagri-lá. Pouco me importa se me disserem que tenho retardamento mental e vivo preso a uma eterna “adultescência”. Cumpro minhas obrigações, pago minhas contas e não dou prejuízo a ninguém.

Romance deu origem à lenda de Shangri-lá.
Se dependesse de mim, jovens não morreriam. Morrer na juventude (assim como na infância) é uma covardia, um aborto espontâneo da vida. Esse, sim, deveria ser proibido. Melhor: deveria ser impossível.
Há quem diga que os jovens podem ser e geralmente são mais irresponsáveis, imaturos, ingênuos, confusos e por aí vai. Sei não… Conheço tantos adultos espancando o planeta, suas nações e suas populações, que me indago por que diabos “cresceram”.
Há, sim, muito de estúpido na juventude. No entanto, observo também viço, espontaneidade, coragem, ousadia, energia, criatividade, brilho no olhar — via de regra pelo menos, pois em qualquer faixa etária existe diversidade.
Se dependesse de mim, eu teria entre 20 e 30 anos para sempre. É como me sinto. É como se sente a maioria das pessoas que passam mais tempo perto de mim. Como na canção da Legião Urbana, “temos nosso próprio tempo”. Afinal, “somos tão jovens!”.
Se dependesse de mim, uma jovem doce, alegre, divertida, inteligente, viva resistiria a qualquer acidente e estaria hoje a distribuir sorrisos, como sempre fez, às amigas e aos amigos que, como eu, tiveram a satisfação de conhecê-la.
M…, você deveria ter me pedido, e eu teria cedido meu sopro de vida a você. Já vivi tanto! Não me importaria de doar-lhe os anos que me restam. Estou certo de que você os aproveitaria tão bem quanto os tenho aproveitado. Quiçá melhor! Nunca se sabe.
O que posso fazer agora se não tentar resistir, evidentemente sem êxito, à força inexorável do tempo? Afinal, a Terra não é uma imensa Shangri-lá. Perecerei como toda a gente a minha volta.
Posso também alimentar a ilusão (esperança?) de que haja vida além da vida e, seja onde for, nossa juventude seja infinita como as melhores lembranças que guardamos na alma.