Ocupados, egocêntricos, ambos ou NDA?

Sabe aqueles amigos que raramente procuram você? Alguns não se dão ao trabalho nem sequer de lhe dar retorno quando você os procura – ou fazem isso muito tempo depois. Nas redes sociais, gostam de receber “likes”, mas dificilmente curtem seus posts. Por que são assim? Excesso de ocupação? Egocentrismo? Indiferença? Tudo isso? Nenhuma das alternativas anteriores?Amizade3Não meço amizade pela quantidade de vezes que alguém me procura ou que procuro alguém. Tenho amigas e amigos com quem me encontro pouco, mas sei que posso contar com elas e com eles – e sabem que podem contar comigo também. São relações que considero sólidas. Nesses casos, a distância costuma ter como principal motivo o fato de serem pessoas muito ocupadas ou levarem vida muito diferente da minha. Se as procuro e não tenho resposta logo em seguida, deduzo que estão lidando com alguma prioridade de momento – família, estudo, trabalho, doença etc. – ou simplesmente administrando um cotidiano no qual, por ora, há pouco ou nenhum espaço para mim.

O histórico da amizade costuma ser o fiel da balança. É o caso de Ângela (nome fictício). Ela some do mapa. Não a vejo durante meses, às vezes anos. Mas, de repente, preciso dela e a procuro. Ângela me recebe de braços abertos e me socorre com sincera boa vontade. Age sempre assim. Não posso cobrar dela presença em meu cotidiano. Casou-se. Tem filhos. Leva vida muito diferente da minha. No entanto, sei que está lá para o que der e vier. A distância, nesse caso, pode até ser lamentável, mas é compreensível. A amizade tem raízes profundas. A importância da presença física é apenas relativa. Quando possível, a gente mata a saudade. Está tudo bem.

Amizade5

Bernardo (nome fictício) é diferente. Nunca dá as caras. Ficamos muito tempo sem nos encontrar. Quando casualmente esbarramos um no outro, ele é extremamente simpático. Chega a fazer festa. No entanto, se o procuro, dificilmente me dá retorno. Ele, por sua vez, nunca me procura. A vida dele não é muito diferente da minha. Temos amigas e amigos em comum, e sei que ele mantém contato frequente com eles. Por que me ignora? Não saberia dizer. Talvez, um dia, em momento oportuno, eu lhe pergunte o motivo. Se ainda não fiz isso foi por medo de parecer que o estou cobrando.

No caso de Ângela, sei que se trata de concentração na imensa quantidade de afazeres que ela tem e no estilo de vida muito distinto do meu. No caso de Bernardo, suspeito de que falte solidez na amizade. Na verdade, ela é superficial. Não tem raízes profundas. Sobrevive da lembrança de momentos agradáveis que compartilhamos um dia. Infelizmente, perdeu substância. Suspeito mesmo de que o afeto tenha esfriado. Parei de procurá-lo, embora o trate muito bem se me encontro com ele.

Nas redes sociais, tanto Ângela quanto Bernardo praticamente ignoram minhas postagens. Acredito que os motivos de cada um para isso sejam diferentes. Como tendo a adotar o princípio da reciprocidade, raramente curto os posts deles – Ângela ainda recebe mais “likes” que Bernardo, dado o caráter da amizade, como já descrevi.

Egoismo

Carlos (nome fictício) me parece ser um caso diferente dos dois anteriores. Dificilmente me procura. Se o procuro, dá retorno, mas não move uma palha para me encontrar. Tem sempre uma desculpa na ponta da língua para não marcar compromisso comigo ou para adiar eternamente um reencontro. Nas redes sociais, raramente demonstra interesse em minhas publicações.

Se o conheço minimamente, arrisco dizer que Carlos é um tipo egocêntrico. Só faz o que quer e quando quer. Vive para si mesmo. Sua prioridade chama-se Carlos. Dá online ampla divulgação de sua vida. Recebe dezenas, às vezes centenas, de “likes” e elogios. Não meus. Afinal, se quisesse, Carlos teria numerosas oportunidades de me procurar e me rever.  Temos vidas compatíveis – e já provei a ele ser flexível. Isso não basta para que ele me queira por perto. O jeito foi aprender a não esperar nada dele. Como não tivemos um atrito, mantemos o sentimento de amizade, baseados em um passado de companheirismo. Sinto muito que seja assim, mas já me acostumei.

Diferente de todos os anteriores é o caso de Daniela (nome fictício). Temos hoje estilos de vida muito distintos, quase incompatíveis. No entanto, sempre encontramos uma maneira de nos reencontrar. Nas redes, ela curte quase tudo o que posto – portanto, acompanha meu dia-a-dia com interesse. O mesmo faço eu. Podemos passar até meses sem nos ver um ao outro, mas o contato à distância é bastante frequente. Noto que se trata também de uma relação enraizada, sólida.

Busy_woman

Evidentemente, nessa panaceia de tipos, há aqueles que combinam excesso de ocupação com egocentrismo e indiferença. Desses sou eu que busco distância. Quando tento me reaproximar deles, acabo sempre me arrependendo. Sinto-me um tolo. Acho que perdi tempo e até dignidade. Afinal, o mais adequado seria ignorá-los tal qual me ignoram. Seriam realmente amigos?

Em um mundo com automóveis (ônibus, metrô, carro próprio, táxi, transporte por aplicativo), motos, bicicletas, telefone celular, e-mail, mensageiros eletrônicos gratuitos, redes sociais, Zoom, não há desculpa para ignorar pessoas queridas. Mesmo que esporadicamente, é sempre possível pedir e dar notícia.

Means_of_communication

Defendo o cultivo das relações pessoais. Elas acabam sendo, no fim das contas, o que realmente vale a pena nesta vida atribulada e às vezes frustrante. Se puderem ser cara a cara, melhor ainda! É preciso admitir: um abraço apertado, em carne e osso, não é muito mais gostoso que fotos, vídeos, GIFs, emojis?

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Uma resposta para Ocupados, egocêntricos, ambos ou NDA?

  1. LUIS CLAUDIO PRUDENTE CICCI disse:

    Reciprocidade?! Isso tem a ver com comparação, com o conceito de justiça, de equidade. E essa conta ñ tem por que fechar, ñ tem que bater. É preciso da troca, mas por nada tem que haver igualdade. Se joga! E que se dane!

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