Custos de uma fantasia.

Quem está acostumado a brincar carnaval sabe que na folia há pouco espaço para romance. O clima geral conspira contra levar alguém a sério. O mais comum é o “namoro-relâmpago”, que pode durar 1 minuto, 1 hora, 1 dia no máximo. Há exceções, claro. Nem todos conseguem sair ilesos do esquema “pega, mas não se apega”. Foi o caso de pelo menos uma jovem no carnaval deste ano. Seu “namoro-relâmpago” rendeu manchete em um portal de notícias na internet e deu o que falar nas redes sociais.

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A moça conheceu um rapaz em um bloco carnavalesco, os dois certamente trocaram beijos, abraços e carícias (não é possível saber se foram além disso, mas tudo indica que não), ela tentou gravar o número de celular dele, a carga da bateria do aparelho dela acabou (não se sabe por que ele não registrou o número dela), os dois se despediram, e cada um foi para seu lado, mas não sem antes terem tirado fotos juntos. Situações assim são comuns entre milhões de foliões brasileiros durante o carnaval. Só que essa jovem “pegou” e se apegou…

Passado o carnaval, ela postou no Facebook um apelo – com foto dos dois – para localizar o jovem que, pelo jeito, mexeu com os sentimentos dela. Uma vez identificado, ele recebeu uma enxurrada de mensagens em seu perfil no Facebook, o que o forçou a suspender sua conta dessa rede social. O moço também procurou o site de notícias e pediu a retirada de suas fotos da reportagem. O veículo acatou o pedido e atualizou o relato. Mostrou que o apelo romântico da jovem causou um transtorno na vida do rapaz.

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A impressão que se tem, após ler a versão atualizada da reportagem, é a de que, para ele, aqueles momentos com ela na folia não significaram nada além de diversão. Talvez até ele namore, e o namoro dele tenha entrado em crise por causa de meia dúzia de beijos com uma mulher que ele supunha nunca mais encontrar. Talvez ele simplesmente preferisse ser “mais um na multidão”, sem a superexposição de sua imagem. Sabe-se lá. Fato é que ele não “curtiu”.

Longe de mim condenar a moça que, em um arroubo romântico, fez o barulho que pôde para tentar reencontrar o homem que imaginou ser o de seus sonhos! Um episódio como esse, porém, dá margem a algumas reflexões.

  • Precisamos nos lembrar sempre de que estamos todos expostos demais nestes tempos de um ou mais smartphone por pessoa. Um toque de tela, e lá se foi qualquer resquício de privacidade! Com um empurrãozinho das redes sociais, e uma ou mais imagens (e sons) ganham o mundo! Outros recursos também contribuem para isso, como os aplicativos de mensagem eletrônica (o WhatsApp é só o mais usado, entre vários).
  • Nesse contexto, também cabe lembrar que “quem entrou na chuva é para se molhar”. Ninguém força ninguém a pular carnaval nesse ou naquele bloco ou a tirar fotos ao lado dessa ou daquela pessoa. Isso vale para toda festa e outros eventos públicos, aliás.
  • Independentemente disso, cada um deveria ter bom senso (noção!) e caráter ao expor a imagem de outras pessoas.
  • Para a falta de bom senso ou de caráter ou de ambos, há leis. Expor uma pessoa a determinados constrangimentos públicos pode levar a processo por difamação, para ficar em um exemplo apenas.

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  • A superexposição costuma ser um jogo de perde-perde. Há riscos tanto para quem expõe quanto para quem é exposto. Afinal, quem expõe outra (s) pessoa (s) pode, em certos casos, ter de responder por isso diante da Justiça e até acabar preso. Quem foi exposto, mesmo que a lei o beneficie, não tem como recuar no tempo e impedir todas as consequências de uma exposição considerada indevida. É possível, por exemplo, retirar um vídeo do ar em uma rede social, mas quem dele fez cópia pode continuar a veiculá-lo de outras formas, por outros canais, sabe-se lá por quanto tempo. Na maioria das vezes, quem não poderia ou não deveria ter visto certas imagens já as viu. O estrago está feito.

Agora, cá entre nós, quem se lembra de tudo isso depois de algumas latas de cerveja? Quem pensa nisso quando se deixa dominar pelo espírito da folia? Quem se importa com certas consequências quando a força do instinto grita mais alto? Quem mede determinados riscos quando decide meter o pé na jaca? Quem nunca perdeu a vergonha, o medo, o juízo?

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Talvez, para alguns, eu pareça comedido demais ou paranoico. Para outros, pode ser que eu soe moralista. Pode haver até quem, ao contrário, me julgue liberal em excesso por considerar que praticamente todo mundo, hoje em dia, está sujeito à superexposição ou à difamação e, portanto, o melhor é relaxar. Nada disso traduz meu ponto de vista.

O que me vem à mente, diante de episódios como o dessa dupla de foliões, é o básico do básico, o mais elementar dos pensamentos: a gente precisa saber onde está pisando e estar preparado para arcar com as consequências do que a gente faz – sejam elas quais forem. Afinal, não há fantasia que esconda, para sempre, a face dura da realidade. Todo carnaval acaba em uma quarta-feira de cinzas. C’est la vie!

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