O preço de se tornar poeta me parece extremamente elevado. Daí minha genuína admiração pela maioria dos autores de poesia (digo maioria porque, claro, em todas as áreas da atividade humana, há pessoas mais talentosas que outras).
Desconheço poeta digno desse nome que tenha adquirido a capacidade de unir palavras e construir uma obra de arte sem antes ter sofrido, no mínimo, a dor de enxergar o mundo com olhos atentos. Essa clarividência, que muitas vezes cega os incautos, desperta em algumas pessoas a habilidade quase mágica de escrever com beleza e profundidade. Seria exagero meu dizer que a dor faz um poeta?
Muita gente antes de mim já suspeitou disso e chegou a expor essa teoria. Confesso que não tenho certeza do que estou dizendo, apesar de minha desconfiança ter fundamento. Basta ler a biografia de poetas consagrados para concluir que a vida deles não é ou não foi nada fácil. Aqueles que não sofrem ou sofreram privações materiais experimentam ou experimentaram angústia, tristeza, depressão, conflitos íntimos, entre outros dissabores psicológicos (quando não vários deles ao mesmo tempo).
O célebre poeta português Fernando Pessoa (1888-1935) cunhou versos que já se tornaram lugar-comum: “O poeta é um fingidor / Finge tão completamente / Que chega a finger que é dor / A dor que deveras sente”. Essa bela estrofe encontra-se no poema “Autopsicografia”.
Posso recorrer também a Emily Dickinson (1830-1886), poeta estadunidense, que tem versos duros sobre a dor:
“Dizem que o tempo ameniza.
Isto é faltar com a verdade.
Dor real se fortalece
Como os músculos, com a idade.
É um teste no sofrimento.
Mas não o debelaria.
Se o tempo fosse remédio
Nenhum mal existiria.”
É bem verdade que não faltam poetas que cantaram e cantam a alegria. Mesmo esses, posso apostar, conhecem a tristeza. Aprenderam a sublimá-la, talvez por meio da própria arte literária.
Como muita gente, já escrevi e, de vez em quando, escrevo poemas. Cheguei a publicar simultaneamente 3 livros de poesia em formato virtual. Admito que, na maioria das vezes, para não dizer todas, o que me moveu a escrever foi a necessidade de exteriorizar algum tipo de incômodo íntimo – uma angústia, uma dor, um sofrimento qualquer.
Na poesia de qualidade, vislumbra-se a alma do poeta. O texto tem profundidade, mesmo quando lúdico. Há destreza na autora ou no autor ao traduzir com ritmo e beleza estados de espírito ou impressões sobre o mundo e a vida.
Penso que a poesia agrada ou desagrada conforme preferências pessoais. Em todo caso, mesmo o poema mais medíocre em termos de uso da língua pode tocar alguém. Este é o segredo: o toque mágico do poeta (mesmo que críticos não o considerem poeta com P maiúsculo). Esse toque, como se sabe, só é possível porque do outro lado existe alguém que se identifica com aquelas palavras. Afinal, da dor ninguém escapa. Ninguém. O sentimento é território comum a todas as pessoas, gostem umas das outras ou não.