Sabe quando bate aquela preguiça? Claro que sabe! Quem nunca sente “aquela” preguiça? Vontade de fazer nada. Nada mesmo. Até pensar desanima. Falar, ouvir, conversar. Sair da cama, da cadeira, do sofá. Caminhar. Comer. Qualquer ação parece um sacrifício. Ler, estudar, debater, discutir. O bicho-preguiça deveria se chamar cupim. Devora tudo, inclusive a fome. Mas por que diabos estou tratando desse assunto aqui, afinal?
Já me explico. Apesar de não estar prostrado, nem mesmo desanimado com a vida, ando sentindo muita preguiça, mas muita preguiça mesmo, sabe de quê? De discutir. Faz algum tempo que ando desmotivado nesse sentido. Para que a gente discute? Adianta? Na esmagadora maioria das vezes, o resultado é negativo ou, no mínimo, irrelevante.
É ilusão achar que a gente muda a opinião de qualquer pessoa por meio de uma discussão, especialmente se for acalorada. Todas as vezes em que me meti em bate-boca, eu me arrependi depois. Cheguei ao ponto de, certa vez, abrir mão de dinheiro só para evitar meia hora de discussão. Verdade!
Um sujeito bateu em meu carro, estava errado, mas fez de conta que não sabia de quem era o erro. Virei para ele e perguntei: “Você tem seguro?” Ele me respondeu que sim. Foi o bastante para eu dizer para ele: “Então, meu amigo, cada um paga o seu. De acordo?” Ele aceitou a proposta na hora! Tirei o dinheiro do conserto do carro do meu bolso. Paguei para não ficar debatendo detalhes de um acidente estúpido no meio da rua.
Uma pessoa menos preguiçosa, mais insistente ou com menos recursos financeiros teria até brigado, se preciso fosse, para evitar um prejuízo. Não foi meu caso. Paguei conscientemente por minha preguiça de discutir. É chato demais! Talvez a dor de cabeça para convencer um sujeito a pagar por um serviço simples de lanternagem me saísse mais caro. Para alguns, chega a custar a vida.
Política, religião, até futebol estou com preguiça de discutir. Poupo minhas energias para ações mais agradáveis. Quando me desentendo com alguém, independentemente de me sentir certo ou errado, logo em seguida lamento. Afinal, perdi meu tempo precioso com uma discussão inútil.
Concordo que essa preguiça de discutir pode me dar outros prejuízos além do pagamento de franquia a uma seguradora de automóveis. Pode, por exemplo, me impedir de me defender em uma situação em que minha reputação está em jogo ou de me sair bem em um debate que contribuiria para reforçar ideias em que acredito. Daí eu abrir mão da preguiça de discutir quando o cerco aperta, o trabalho exige ou a causa é nobre.
Agora, quer saber mesmo? Posso até espantar a preguiça de discutir quando convém, mas ela sempre volta e tem ficado cada vez mais abraçada a mim como a uma árvore. O exercício de espantá-la é salutar, eu sei, mas não posso negar que fugir das discussões tem me feito um bem! Já experimentou? Então, sabe como é.