Dias de sol em Dublin.

Acredite quem quiser. Passei uma semana de sol em Dublin. Milagre? Sorte? Mudança global do clima? Tudo isso junto e algo mais? Não sei. Fato é que foram dias de muita luz e algum calor na acolhedora capital da Irlanda, famosa por ser uma das mais chuvosas cidades da Europa (se não for a mais de todas).

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Saint Stephen’s Green Park, no coração de Dublin.

 

Quem espera uma megalópole decepciona-se com Dublin (alguns preferem a grafia aportuguesada Dublim). Nada do frenesi de Londres, Paris, Berlim, Madri, Roma. Não fosse pelos numerosos pubs, eu diria até que a cidade é pacata. Minha irmã, que mora lá e se mostrou, mais uma vez, uma perfeita anfitriã, já havia me advertido de que Dublin não tinha o mesmo ritmo acelerado de outras capitais europeias. Sinceramente, talvez pelo sol a pino, não senti a menor falta da excitação da maioria dos centros urbanos.

Desfrutei do prazer de caminhar pelas ruas sem medo de atropelamento, de ir a qualquer lugar e não enfrentar longas filas (nem mesmo nos pontos turísticos mais badalados), de ver pessoas cruzando a cidade de bicicleta em ciclovias aparentemente seguras, e até de tomar sol no parque central da cidade, o Saint Stephen’s Green. Melhor de tudo: segurança pública. Não presenciei nem tive notícia de qualquer ato criminoso nos dias em que passei lá (no mesmo período, o Brasil trazia crimes diariamente nas manchetes dos jornais). Sentia-me seguro aonde ia. Em ambiente assim, pode-se, de fato, relaxar.

Voltei de Dublin pensando que o Brasil precisa, de uma vez por todas, resolver o problema da segurança pública. A falta dela afeta diretamente o direito de ir e vir. Claro que a questão já havia me ocorrido numerosas vezes antes, mas minhas férias mais recentes reforçaram novamente essa reflexão. Até porque significaram também uma pausa no medo, na tensão, na angústia. Afinal, esse medo, essa tensão, essa angústia evidentemente não dizem respeito somente a mim mesmo. Preocupo-me igualmente com a segurança das outras pessoas.

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Trânsito tranquilo em Dublin, onde também notei pouco ruído.

 

O mais curioso é que o dublinense bebe muito. Não fiquei preocupado com estatísticas, mas observei a significativa quantidade de pubs pela cidade, sempre cheios. Nos dias de sol que passei lá, vi pessoas de todas as idades – sobretudo jovens – bebendo nas calçadas. No The Barge Pub, à beira do canal, via-se gente dentro e fora do bar, muito mais fora que dentro, aproveitando o calorzinho e a claridade excepcionais com “pints” de cerveja da melhor qualidade à mão – a maioria em pé, em grupo, conversando animadamente. Dá para ser feliz de vez em quando…

Briga? Não presenciei nenhuma. Certamente há. Turista leva lentes cor-de-rosa na mala. De qualquer forma, pela quantidade de bebida que se consome naquela cidade, penso que o índice de criminalidade deveria ser bastante elevado. Aqui, fui atrás das estatísticas. Um artigo do site e-Dublin traz os números do Central Statistical Office (o IBGE de lá): A Irlanda já não é mais a mesma, mas tem melhorado. Como se vê, não convém andar de olhos vendados, mas tampouco há espaço para paranoia.

O chamado Tigre Celta, que também sofreu revezes em sua economia depois de certo auge que lhe rendeu esse apelido (entre 1995 e 2000, quando sua economia chegou a crescer acima dos 9%), continua a rugir. Veem-se muito poucos pedintes nas ruas – aparentemente dependentes de drogas. Há novas construções para onde se olha (um dos sinais exteriores de prosperidade). Prédios e ruas mostram-se conservados, limpos, cuidados. Enfim, pelo que vi e li nos jornais, a Irlanda tem seus problemas, como todos os países, mas há muito deixou de ser apenas um “emergente”.

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Centro de Belfast, capital da Irlanda do Norte.

Aproveitei a estada em Dublin para visitar a capital da Irlanda do Norte, Belfast. Tive a impressão de ser mais rica. Notei algum luxo nas lojas e veículos (geralmente alemães de último tipo, de marcas como Audi, BMW e Mercedes). A história é tão  interessante quanto triste: as marcas de um passado recente de violência estão muito presentes, inclusive em passeios turísticos (nomeadamente, nos célebres murais).

A impressão que tive foi de que Belfast se parece mais com uma metrópole. Dublin, porém, ganha em aconchego, charme, simpatia. Há a chuva… Verdade… Mas ela não me pegou lá. Milagre? Sorte? Mudança global do clima? Minhas lentes cor-de-rosa foram na mala e admito que as usei para apreciar todo aquele verde das praças e parques; as construções ora góticas, ora vitorianas, ora uma mescla de estilos; o consagrado Temple Bar (que dá nome também ao bairro onde fica o célebre pub); os típicos ônibus de dois andares; a gentileza dos dublinenses; a generosidade de minha irmã. Valeu cada euro, cada minuto despendido ali. Dá para ser feliz de vez em quando… Se dá!

Sob os pés do escritor irlandês Oscar Wilde, mais conhecido por “O Retrato de Dorian Gray”.

 

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2 respostas para Dias de sol em Dublin.

  1. João Luiz disse:

    A Irlanda mora no meu coração!

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