Vida na superfície.

Quantos peixes há nas águas deste planeta? Não tenho a menor ideia! Quantos seres habitam o mundo subterrâneo? Não tenho a menor ideia! Quantos pássaros percorrem os céus? Não tenho a menor ideia! Sei, porém, que há aproximadamente 7 bilhões de pessoas na Terra. É muita gente. É tanta gente que me assusta. Dizem os demógrafos que vem mais por aí. Socorro!

 

Ser humano vive na superfície. Ser humano é superficial. É da própria natureza. Nasceu para caminhar sobre a terra. Não tem asas, nem guelras, nem barbatanas, nem prescinde de oxigênio por muito tempo. Portanto, não voa alto nem mergulha fundo. Ser humano que faz isso depende de aparelhos, alguns tão sofisticados que só passaram a existir há pouco tempo. Precisaram de séculos de evolução tecnológica.

De qualquer forma, nenhum avião, nenhum helicóptero, nenhum paraquedas se compara às asas de um pássaro. O bicho voa quando quer, de graça. Pousa quando bem entende. Imprime ao voo a velocidade que a força de suas asas permitirem. Não paga multas por atraso (não há para ele sequer a noção de atraso). Não necessita de torres de comando.

Da mesma forma, nenhum navio, nenhum barco, nenhum veleiro, nenhum submarino, nenhum escafandro se compara ao corpo de um peixe. O bicho nada o tempo todo e não se esgota. Até quando dorme, está dentro d’água. Mergulha, salta até a superfície, retorna a seu habitat natural quando quer ou precisa. Nada paga por isso. Nada. Apenas nada.

Nenhuma escavadeira domina as profundezas da terra tão bem quanto uma reles (?) minhoca. Nenhum espeleologista prescinde de pesados tubos de oxigênio se pretende passar muito tempo no fundo de uma caverna. A minhoca e seus parceiros subterrâneos penetram o chão e ali constroem seu mundo. Vão fundo. Vão longe.

A espécie humana divide a superfície com os répteis, outros mamíferos, algumas aves. Rasteja. Caminha. Corre. Para os demais movimentos, depende das máquinas, que ela, graças à inteligência, inventou, certamente inspirada nos bichos que voam, submergem nas águas ou penetram na terra. Acredita, assim, dominar o planeta.

Acontece que também o destrói. Arruína seu próprio habitat. Não contente com isso, arruína também o habitat dos bichos –  seres, para ela, inferiores. Típico ser da superfície, típica espécie superficial, tende a ver sempre na horizontal, no plano, no nível de seus próprios olhos. Mesmo quando voa, carrega peso consigo. Mesmo quando nada ou mergulha, leva peso. Mesmo quando adentra o subterrâneo, transporta peso.

Humanos são seres de superfície e de peso. Sete bilhões de paquidermes superficiais… Belo zoológico! Maravilha de se ver!

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