Minha amiga Sílvia está envolvida com três rapazes ao mesmo tempo. Isto mesmo: três. Eles fazem parte de sua “short list”. São aqueles com quem ela estaria mais disposta a ter um relacionamento duradouro. Claro que não levo Sílvia muito a sério, mas me divirto com suas aventuras.
Perguntei-lhe, um dia, como chegou a essa “short list”, ou seja, aos 3 candidatos preferenciais. Ela me explicou: Lucas lhe transmite segurança, serenidade, confiança; Anderson lhe desperta profundamente a libido, sabe usar a sensualidade na medida certa, além de ela ter com ele diálogos tanto leves quanto profundos; Wesley reúne atributos muito similares aos de Anderson, embora leve desvantagem por ter fama de mulherengo.
Nos três, Sílvia enxerga extrema beleza. Nos três, encontra qualidades que ela não só aprecia como também exige em um homem. Daí dividir seu coração em três fatias. Iguais? Ela, claro, não sabe medir com precisão. Até porque isso não é possível mesmo. Tudo o que Sílvia parece saber é que, se todos eles lhe pedissem simultaneamente para namorar, ela estaria em situação bastante complicada. Qual deles escolher?
Ligada em beleza, Sílvia me diz que, se adotasse apenas esse critério, escolheria Lucas. Já pelo aspecto do desempenho sexual, optaria por Anderson. Caso priorizasse o cavalheirismo, Wesley seria o favorito. Rio sozinho pensando no “trilema” de Sílvia. Quando me encontro com ela, eu a provoco. Quero saber mais. Hoje, suspeito seriamente de que seu preferido é Anderson.
Quando Sílvia o descreve, noto certa excitação em seu corpo, e seus olhos brilham. Tudo indica que a atração dela por Anderson não se limita ao lado físico somente. Vai além. Há uma forte ligação entre eles, uma conexão. Ousaria dizer até que são farinha do mesmo saco. Não me espantaria se ele também tivesse dúvidas entre ficar com ela e com outras. Talvez por isso mesmo, não estejam juntos ainda, em uma relação séria.
Lucas é quase um príncipe encantado. Tem beleza cinematográfica, situação financeira confortável, educação refinada — embora pareça ser um narcisista que gosta mais de si mesmo que de qualquer mulher. O sujeito admira excessivamente o próprio corpo, que ele esculpe de maneira obsessiva. Dá a impressão de ser mais interessado em ser amado do que em amar, em sentir prazer que em dar prazer. No entanto, é um tipo sossegado (nunca se irrita), cortês, muito instruído e respeitador. Sílvia sente-se uma princesa ao lado dele. Na cama, embora não a empolgue tanto quanto Anderson e Wesley, Lucas, por ser belíssimo, acaba por excitá-la, e ela consegue ter prazer com ele. Sílvia admite que se casaria com Lucas, entre outros motivos por ele lhe inspirar confiança, e ela não tem dúvidas de que se apaixonaria por ele em relativamente pouco tempo.
Wesley une o cavalheirismo de Lucas e a habilidade de sedução de Anderson. Sílvia me diz que ele sabe tratar uma mulher, não somente na cama, mas em todos os lugares. É dele que ela ouve mais elogios, de todos os tipos. Ele não tem dificuldades para expressar sentimentos — algo que ela considera raríssimo nos homens. Diz que gosta dela. Dá-lhe presentes. Envia-lhe flores. É um sedutor impecável. No sexo, também mexe fundo com ela. O maior problema é que Wesley não lhe inspira muita confiança. Sílvia o conheceu antes de “ficar” com ele e ouvia dizer, quando ainda eram amigos, que ele traía a ex-namorada de vez em quando. Como se entregar a um homem assim? Ele pode ter mudado. Talvez traísse a ex porque brigavam muito ou tivessem relação aberta. Mas como ter certeza disso? Risco…
Sílvia me pediu algo muito difícil: ajudá-la a eleger um dos três para investir na relação com ele e passar a namorar de verdade (caso sentisse reciprocidade nesse sentido, claro). Por enquanto, ela fica sem compromisso com os três, e eles estão cientes de que, até agora, ninguém é de ninguém. Só que o tempo está passando; o cerco, se fechando, e a situação começa a se complicar (administrar três “rolos”, sem que um saiba da existência do outro, dá trabalho…). Sílvia quer dar um jeito nisso. O que dizer a ela?
Para não me sentir responsável por sua decisão – caso ela se arrependa, não quero que me culpe –, resolvi propor o seguinte: já que ela não pode ter três em um, ou seja, reunir todas as qualidades de cada um deles em um só, ela deveria testá-los para saber qual tem mais a lhe oferecer como parceiro. De que jeito? Sugeri três testes.
Primeiro teste: sumir por alguns dias. Não procurar nenhum dos três. Não responder chamadas, mensagens, nada. Somaria mais pontos o que insistisse maior número de vezes e de forma cordial, menos parecida com cobrança do que com preocupação e saudade. Quem mais persistisse na procura provaria ter mais interesse nela.
Segundo teste: na primeira oportunidade, discordar veementemente deles sobre um ponto de vista qualquer. Perderia mais pontos o que se mostrasse autoritário, muito apegado ao próprio pensamento, arrogante na reação a uma opinião contrária à dele.
Terceiro e último teste: recusar-se a fazer sexo após um passeio maravilhoso. O que se irritasse, não demonstrasse compreensão ou fosse embora logo demonstraria que a parte carnal pesa mais para ele. Lá iriam para o espaço vários pontos, afinal Sílvia, por incrível que pareça, tem um forte lado romântico.
A soma dos três testes ajudaria Sílvia a escolher um de seus pretendentes. E se os testes não fossem conclusivos? Bem… Nesse caso, Sílvia continuaria em dúvida. Mas por que não tentar? Caso os testes apresentassem algum resultado, ela poderia, no mínimo, medir a própria reação. Supondo-se que Lucas se saísse melhor nos três testes, e Sílvia sentisse, no íntimo, que não era esse o resultado que ela realmente queria. Ela saberia, assim, que Lucas não é seu preferido. Teria, então, de ter coragem para abrir mão de uma avaliação racional e apostar no próprio instinto, na própria intuição, no real desejo.
Sílvia gostou de minha proposta, mas observei que continuou hesitante. Confesso que, no fundo, eu não estava levando minha própria sugestão ao pé da letra. Queria apenas entrar no jogo dela, abraçar uma brincadeira, pois, repito, não consigo levar Sílvia a sério quando se trata de relacionamento afetivo-sexual. De qualquer forma, se ela optar por fazer os testes e chegar a alguma conclusão depois deles, prometo que relatarei o resultado aqui. Continuo torcendo por Sílvia e sua realização afetiva, seja com qual dos três for — ou com um quarto rapaz, que desempate o jogo.