Por que a gente mente? O personagem House, do seriado “House M. D”, gostava de dizer: “Everybody lies” (Todo o mundo mente) ou “People always lie” (As pessoas sempre mentem). Se a gente observar bem, concluirá que Dr. House estava certo. Em algum momento, a gente conta uma mentira. Alguns mais que outros, mas ninguém escapa.
Há mentiras leves, que não prejudicam. Há mentiras graves, que podem causar danos irreparáveis. Acho mais fácil entender as graves, embora não as defenda. Um criminoso que conta uma ou mais mentiras para escapar da prisão, por exemplo, está errado, mas qualquer um pode entender o motivo (mesmo que discorde dele).
Já a mentira leve pode não prejudicar, mas me parece mais difícil de entender. Por que não dizer a verdade logo de uma vez? Está certo. Não preciso responder à pergunta “Tudo bem?” com um desabafo ou o relato de meus problemas. Trata-se de uma indagação retórica que pede uma simples resposta, retórica também. Seria uma grave mentira responder “Tudo bem” mesmo que eu esteja atravessando um momento difícil?
Os mais rigorosos dirão que mentira é mentira e ponto. Quem não disse a verdade mentiu. Que o seja. De qualquer forma, é razoável aceitar que há mentiras e mentiras, ou seja, algumas são de fato mais graves. Então, insisto em expressar meu incômodo: por que mentir se é possível dizer a verdade em várias ocasiões?
Às vezes, mentir sai mais caro. Compromete a própria credibilidade — “produto” de elevadíssimo valor no “mercado”. A verdade, mesmo incômoda para alguns, pode ser libertadora no médio ou no longo prazos.
Quem é verdadeiro conquista a confiança de maior número de pessoas. A sinceridade tem muitos simpatizantes. Tudo isso sem contar que, geralmente, uma mentira puxa outra, que puxa outra e mais outra e mais outra, como um novelo sem fim. Qual é a vantagem dessa bola de neve, que pode, inclusive, causar stress?
Vocês estão certos, leitores. Há pessoas que não merecem que a gente seja o tempo todo sincero com elas. Concordo também com vocês: há casos em que mentir evita atritos, dores, confusões inúteis. Mas quando nada disso está em jogo, por que certas pessoas mentem? Sofrem de mitomania? Têm “Complexo de Pinocchio”?
Nunca me esqueço de um episódio, muitos anos atrás, em que um colega de escola e eu combinamos de ir a um circo. No dia do espetáculo, ele ligou para mim. Queria cancelar o passeio. Perguntei por quê. Ele foi de uma franqueza incomum: “Não estou mais com vontade. Por favor, me desculpe.” Tornou-se um de meus melhores amigos.
Vocês estão corretos, leitores: existem pessoas que não suportam a verdade, preferem viver iludidas, em estado de negação. Paciência. Fazer o quê? Não se pode forçar alguém a enxergar a realidade.
Enfim, penso que a gente mente por motivos diversos e em graus distintos, e tendo a concordar com Dr. House: todo o mundo mente. Agora, é preciso levar em conta um fato: “mentira tem perna curta”. Eu iria além: mentira tem também braços e língua curtos. Afinal, ingênuo é o mentiroso que subestima a inteligência dos outros.

Abraham Lincoln, 16º presidente dos Estados Unidos.
Para encerrar, uma frase bastante realista, atribuída ao ex-presidente dos Estados Unidos Abraham Lincoln: “Você pode enganar todas as pessoas por algum tempo e algumas pessoas por todo o tempo, mas não consegue enganar todas as pessoas por todo o tempo.”