Certas pessoas simplesmente desconhecem o sentido de jogar conversa fora. Para elas, deve-se falar sério o tempo todo ou calar-se para sempre. Por mais chatas que sejam, muitas delas fazem parte de nosso convívio, e não dá para evitá-las. Goste-se ou não, o jeito é conviver com elas.
Um tipo bastante comum: quem leva ao pé da letra o que alguém diz em mesa de bar.
— O mundo vai mal. É fome, é miséria, é guerra para todo lado.
— Não. Há muitos países onde não há fome, nem miséria, nem guerra.
— Está bem. Vou ali buscar o tablet. Preciso fazer uma pesquisa para dizer quantas pessoas no mundo são subnutridas, materialmente vulneráveis e vítimas de conflitos armados. Depois, podemos tirar uma conclusão mais precisa. Ah, você só se esqueceu de me corrigir e dizer que o mundo é redondo e, portanto, não pode haver nada para lado nenhum!
Gente assim acha que qualquer lugar serve como banca de defesa de dissertação de mestrado ou de tese de doutorado.
Há também os patrulheiros da política, sejam da situação, sejam da oposição.
— A cerva subiu demais! Essa inflação está de lascar! Daqui a pouco, só vou beber água.
— Na época do presidente X, também houve aumento de preços, também houve inflação.
— Epa! Eu só comentei que a inflação está alta. Não disse que é novidade no país.
Outro espécime dessa fauna é o crítico mal-humorado:
— Já viu aquela novela das nove na Globo?
— Não vejo novela. Aliás, não assisto nem à Globo. Prefiro ler.
— Eu também acho que pouco se salva na TV aberta, mas, de vez em quando, gosto de me divertir com esses programas mais leves ou que não me obrigam muito a pensar. Passatempo. Só.
— Esse é o problema. A TV aberta distancia você da realidade. Aliena. Deturpa. Não dá.
— Certo… Devo ser burro mesmo. Fiz graduação, mestrado, viajei, trabalhei com pessoas e campos diferentes e muito interessantes, mas não aprendi nada. Continuo um estúpido, pois consigo ver, apenas para me distrair, uma novela sem-vergonha de vez em quando.
Tal como o corretor ortográfico dos tablets e smartphones, existe o corretor de discurso oral. Esse, num ambiente informal, desperta em você o desejo de expulsá-lo para bem longe. Xô!
— Esses americanos são dose!
— Estadounidenses, afinal todos nós somos americanos.
— Está bem. O governo estadounidense às vezes adota uma postura internacionalmente dominadora. Que tal, professor?
Eu poderia arrolar aqui dezenas de exemplos, mas o leitor já deve estar cansado. Deu para entender meu ponto, não? Aposto que se lembrou de que já viveu situações semelhantes vida afora. Quem nunca, não é mesmo? Melhor rir para não chorar. (Ih, será que alguém vai escrever para reclamar desse desfecho porque usei uma frase clichê?!)