É fácil hoje em dia encontrar tanto quem tem quanto quem critica preconceitos contra classe social, cor da pele, orientação sexual, grau de instrução, padrão de beleza, crença religiosa. Há campanhas de massa e ações afirmativas para mitigar esses tipos de preconceito. Por outro lado, destaca-se a reação de quem se incomoda com essas campanhas e ações afirmativas. O embate entre uns e outros é visível, sobretudo nos meios de comunicação, com ainda maior visibilidade nas redes sociais.
No entanto, há outros tipos de preconceito que, talvez por parecerem menos danosos, passam despercebidos. Ninguém se importa muito com eles, principalmente quem deles não é alvo. Aqui vão alguns exemplos:
- Comportamento alimentar. O caso mais emblemático é o de vegetarianos e veganos. Por incrível que pareça, existem pessoas que vêem com desconfiança quem não come carnes (vegetarianos) ou não consome nenhum tipo de produto animal (veganos). Assumir-se vegetariano ou vegano pode até causar constrangimento em certos ambientes. Há mesmo atrevidinhos que zombam de quem não aprecia bichos no prato. Acham que se trata de gente sempre e necessariamente neo-hippie ou censora da alimentação dos outros (embora até haja mesmo vegetarianos e veganos assim). Só que isso não é sempre verdade.
- Erudição. Uma pessoa erudita, ou seja, com conhecimento enciclopédico, muitas vezes desperta preconceito. Ocorre até de causar incômodo. Por mais absurdo que possa parecer, existe quem (por inveja, ignorância ou ambos) trate o erudito como uma espécie de indivíduo culto ultrapassado, démodé, e veja nele sempre e necessariamente um esnobe (o que não é sempre e necessariamente verdade, ainda que existam numerosos eruditos arrogantes por aí).
- Vida doméstica. Mulheres que, a despeito das conquistas do feminismo, optam por ser donas-de-casa também são alvo de preconceito, especialmente de outras mulheres que, diferentemente delas, trabalham fora e ganham seu próprio dinheiro. É como se essas mulheres do lar ignorassem o esforço e a luta de tantas por direitos iguais aos dos homens. De fato, parece anacrônico uma mulher hoje em dia preferir cuidar da casa, do marido e dos filhos a construir uma carreira e conciliá-la com os compromissos familiares. Mas tal escolha — sobretudo quando, de fato, se trata de opção e não de alternativa única, como no passado — é legítima e merece respeito. Ademais, há mulheres que fazem essa opção por determinado tempo porque desejam, espontaneamente, dar mais atenção a seus filhos e acompanhar a educação deles de perto, pelo menos nos primeiros anos.
- Profissões. Não é raro encontrar profissionais das chamadas Ciências Humanas com preconceito contra profissionais de Ciências Exatas e vice versa. Isso costuma ocorrer ainda na universidade, quando estudantes de Filosofia, Sociologia, Letras, Arquitetura (para ficar em poucos exemplos) consideram seus colegas de Engenharia (civil, elétrica, eletrônica, mecatrônica etc.), Tecnologia da Informação, Ciência da Computação, entre outros, um bando de asnos que não leram nada. Pensam assim como se não soubessem que aprender a erguer uma barragem, a encontrar soluções para milhões de usuários de informática, a inventar novas máquinas fosse possível sem o uso da inteligência. O mesmo tipo de preconceito descabido existe do outro lado, quando ases do cálculo debocham de “poetas” que mal sabem lidar com a contabilidade doméstica. No meio desse tiroteio infeliz, pobres profissionais de Educação Física! Esses são, volta e meia, comparados a trogloditas que necessitam de pouco cérebro para prescrever treinos ou ensinar o que qualquer um poderia aprender sozinho, como correr, nadar, pedalar, saltar. Na primeira lesão, descobre-se que a falta de devida orientação para a prática de exercício físico regular é um risco mais alto e caro que qualquer preconceito intelectual.
Chega a ser impressionante como seres humanos são capazes de desenvolver idéias preconcebidas e tirar conclusões precipitadas sobre praticamente tudo. Entendo que os exemplos acima tenham realmente menos relevância social, do ponto de vista de escala e impacto, que racismo, sexismo, intolerância religiosa, homofobia, elitismo etc. De qualquer maneira, preconceitos, sejam quais forem, evidenciam uma tendência – talvez natural, infelizmente – a lidar mal com a diversidade.
De onde vem tanta resistência ao diferente? Não tenho a pretensão de querer oferecer uma resposta a essa pergunta (embora eu mesmo tenha, como a maioria, minha cota de preconceito). Contento-me em formular a questão. Afinal, sei de gente que nem sequer pára para pensar nisso…
Espero de expressar-me bem em português, porque eu sou italiano, dizendo que qualquer preconceito não é um pensamento positivo. Eu posso aceitar de tudo, a condição que os outros não me digam como eu devo viver. O meu pensamento é “Vive e deixa viver” (se diz assim em português?)
Grazie!
Em “Erudição” pode não ser só preconceito como vemos em:
http://saudepublicada.sul21.com.br/2014/08/04/1-o-antissemita-o-racista-o-machista-e-a-inveja/
Grato por seu comentário, Telmo!