Existe alguma vantagem em um relacionamento clandestino? Quem já viveu a experiência sabe que sim. É a relação ideal? Penso que não. Mas…
Há diferentes motivos para se optar por uma relação amorosa às escondidas. Às vezes, essa é a única opção em dado momento. Às vezes, não é a única, mas a melhor.
Aqui vão alguns exemplos:
- Um dos dois ou ambos são comprometidos. Não sou nada simpático à idéia da chamada traição, mas há pessoas casadas que conhecem alguém, apaixonam-se, não resistem à paixão e acabam se envolvendo em uma relação extraconjugal. Não sabem ainda se o que vivem é apenas uma aventura passageira ou se vai durar. Então, preferem não abrir o jogo com o parceiro ou a parceira até terem a certeza do que — e de quem — realmente querem.
- O tipo de relação é alvo de preconceito ou discriminação ou ambos. É o caso de alguns relacionamentos interraciais, interclasses, homossexuais etc.
- O casal pertence a grupos inimigos. A tragédia “Romeu e Julieta”, de Shakespeare, retrata um caso clássico, mas há situações mais comuns nos dias de hoje, como relações entre judeus e muçulmanos.
Namorar às escondidas, em qualquer uma dessas situações e em outras que não mencionei, pode parecer sempre um desconforto – para dizer o mínimo. Afinal, é preciso mentir, dissimular, ocultar, e isso tem seu preço em termos de consciência e conveniência. No entanto…
Seria mesmo o caso de sacrificar uma relação em que há profundo sentimento ou forte desejo apenas porque não se pode assumi-la em público? Por que abrir mão de uma experiência afetiva só por ela contrariar a opinião ou o interesse de outras pessoas? Em termos mais românticos: vale a pena sacrificar um grande amor só porque não se pode vivê-lo abertamente?
Eis onde entra a importância de se enxergar vantagem onde, aparentemente, só há desvantagem. Uma relação clandestina não precisa ser necessariamente uma tortura. Por mais desagradável que seja em alguns momentos, ela tem seus prós. Aqui vão alguns:
- Há um forte componente de aventura, de “adrenalina”, numa relação às escondidas. É mais emocionante e, por isso mesmo, mais divertida.
- Menos pessoas interferem no relacionamento. Quando um casal (ou um trio ou um “quatrilho”, sabe-se lá) tem uma relação de que ninguém tem conhecimento ou apenas poucos o têm, há menos perguntas, cobranças, palpites etc. da parte de terceiros. Casais regulares volta e meia ainda ouvem as clássicas perguntinhas (sobretudo de parentes): “E esse casamento? Quando é que sai?” ou “Já estão planejando um bebê?”.
- A inveja fica mais longe. A relação discreta atrai menos (ou nenhuma) inveja, pois ninguém vê o casal exibindo felicidade por aí, nem brigando em público.
- O grau de intimidade pode ser maior. Sem interferências externas, ou seja, com alguma privacidade e sobretudo graças ao aspecto clandestino da relação, pode-se reforçar a cumplicidade. Os amantes são como fugitivos que só podem contar um com o outro. A união tende a ser mais forte.
Eu sei que há muitas desvantagens em uma relação clandestina, e ela não me parece a ideal, mas me permito pensar também que — ao menos por certo período de tempo — é possível, necessário e até empolgante manter um relacionamento sem exposição. Mesmo porque, sem pressão social, os amantes só ficarão juntos se estiverem realmente a fim. Caso, um dia, resolvam tornar a relação pública é porque estão de fato seguros do que querem e prontos para enfrentar juntos qualquer obstáculo.