O futebol é como uma montanha-russa. Os times sobem, descem, voltam a subir, voltam a descer. Enquanto isso, o torcedor sofre. Quase vira bipolar. Vai da euforia à depressão em questão de minutos, horas, dias. O flamenguista, porém, tem uma agravante: além dos altos e baixos do time, ele é alvo de bullying. Não exagero. Basta observar. Todos os outros clubes, sobretudo os adversários cariocas, adoram debochar do Flamengo em público.
Nas redes sociais, botafoguenses, tricolores, vascaínos (independentemente de estarem em alta ou em baixa) tripudiam sem dó nem piedade quando o Flamengo vai mal. Não vejo a mesma ferocidade nos rubro-negros quando seus adversários perdem.
Claro que faz parte do jogo das torcidas zombarem umas das outras! Isso chega a ser divertido. Mas, quando se trata do Flamengo, noto um prazer especial em quem escarnece do clube e de seus torcedores.
Tenho um amigo que já converteu seu desprezo ao Flamengo em uma espécie de hobby. Outro me faz suspeitar de que tem mais satisfação em ver o Flamengo perder do que em ver seu próprio time ganhar. Em resumo: há muita gente por aí que simplesmente ama odiar o Flá. Freud explica… Mas não quero me enveredar por aí.
Esse desprezo desmesurado pelo Flamengo se manifesta das maneiras mais absurdas. Está bem. Eu sei que futebol é paixão. Mesmo assim, penso que deve haver algum espaço para a racionalidade — ou o resultado são torcidas se enfrentando na pancada, às vezes até a morte. Sem contar as discussões que afastam amigos, como se um time fosse mais importante que uma amizade.
Em meio às numerosas manifestações desse “ódio de estimação” ao Flamengo, colho apenas duas pérolas, as mais bizarras:
- O Flamengo é time de bandido.
- A TV Globo é flamenguista. Por isso, o Flamengo tem mais torcedores.
Ninguém, em sã consciência, pode levar esse tipo de “argumento” a sério. Eu mesmo só resolvi tratar disso aqui por diversão.
De onde saiu o dado de que a torcida do Flamengo reúne mais bandidos? Onde está a pesquisa que o comprova? Ainda que existisse tal estudo, eu gostaria de observar sua metodologia e sua origem, ou seja, quem o encomendou.
Em tese, um time com aproximadamente 30 milhões de torcedores só pode ter mais integrantes de todos os tipos: mais professores, mais médicos, mais engenheiros, mais analfabetos, mais bandidos, mais de tudo.
Mesmo que se confirmasse a desproporção no número de bandidos na torcida rubro-negra em relação às demais, o que alhos têm que ver com bugalhos? Um time pode controlar quem torce por ele? Pode impedir alguém de ser seu fã?
Quanto ao segundo “argumento”, acho improvável que a TV Globo tenha predileção por algum clube esportivo. Mesmo que tivesse, a lógica só faria sentido ao contrário: a emissora favoreceria (sei lá como) o Flamengo porque ele já tem mais torcedores, e ela depende de audiência. Quer saber? Para mim, isso é reles teoria da conspiração.
Há quem lembre que a novela “Avenida Brasil” teve como protagonista Tufão (papel de Murilo Benício), um ex-craque do Flamengo. De novo: se houvesse favorecimento ao clube rubro-negro nesse caso, a lógica da emissora estaria corretíssima ao apostar no gosto da maioria. Até porque a trama se passava no Rio de Janeiro, berço do time.
A tentativa de desqualificar o Flamengo e seus torcedores chega a ser pueril. Parece bullying escolar. Quando torcedores do Vasco protagonizaram quebra-quebra colossal, de repercussão até fora do país, em 2013, o primeiro pensamento que me ocorreu foi: “Se fossem flamenguistas, os adversários sairiam por aí dizendo que o vandalismo só poderia ter partido mesmo de um time cheio de torcedores bandidos.” É…
Notícia da rádio CBN sobre quebra-quebra da torcida do Vasco.
Confesso que não sei dizer se o problema é dor-de-cotovelo ante um time que tem muita história e craques inesquecíveis (Zico e Romário foram apenas dois deles), se é o fato de a torcida rubro-negra ser tão populosa quanto ruidosa. Realmente não sei. Talvez só mesmo Freud (jamais confundir com Fred) explique.
Claro está que sou flamenguista de carteirinha e, até hoje, não cometi nenhum crime. Tenho curso superior e pós-graduações, mas não me importo de dividir a arquibancada com quem mal sabe escrever o próprio nome.
Se há um ambiente onde não deveria haver elitismo é o do futebol. Afinal, desconheço craques da bola brasileiros que tenham nascido em berço de ouro.
Tampouco desconfio de que a Rede Globo beneficie meu time. Se isso, de fato, ocorresse, até gostaria de saber como, pois seria uma aula de “Comunicação & Marketing Invisível”, que eu, sendo da área, desconheço completamente – embora conheça os efeitos da propaganda subliminar e, por isso mesmo, não aposte nisso no caso da Globo nem de outras emissoras que buscam igualmente elevar sua audiência.
Sugestão aos companheiros rubro-negros: ignorem a provocação ou a levem na brincadeira. Sugestão aos adversários: só se lembrem de vaiar o Flamengo quando ele estiver jogando contra seu time; esgoelem durante o jogo e esqueçam a rixa no final. A ambos: nada de fanatismo! A provocação nunca fez ninguém trocar de torcida, mas já fez muita gente pagar a língua…
Saudações rubro-negras!