Conhecer, lembrar, amadurecer…

Sou defensor intransigente do conhecimento. A educação, para mim, tem fim em si mesma. Gosto de aprender por aprender e penso também que, quanto mais alguém se instrui, mais apto tende a estar para viver e conviver. O diabo é que a gente esquece muito.

Knowledge

A ambição do conhecimento esbarra no limite da memória. Chega um momento em que o cérebro joga parte do saber acumulado numa espécie de arquivo morto.  Não adianta ter consumido numerosos livros, filmes, cursos, palestras, seminários, debates ou desbravado o planeta. Grande parte disso simplesmente deixa de estar à mão.

Antes de prosseguir, um breve aparte. Sei que há diferença entre informação e conhecimento. De qualquer forma, uma e outro podem ser vítimas da memória – a primeira mais que o segundo. Sei também que não se pode confundir educação (em sentido amplo) com instrução (em sentido mais restrito, de educação escolar). Como não redijo aqui um trabalho acadêmico, permito-me contar com o bom senso do leitor para compreender neste artigo o contexto desses termos. Isso posto, prossigo.

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Um amigo me contou uma história que ilustra bem o que estou tentando dizer. Ele estudou alemão na juventude. Não chegou a dominar plenamente a língua, mas a conhecia o bastante para se comunicar nela com desenvoltura. Chegou a redigir vários textos em alemão. Guardou-os.

Há algum tempo, ao revirar velhos papéis, esse meu amigo deparou com um dos textos que escrevera em língua alemã anos atrás. Qual não foi a surpresa dele ao dar-se conta de que não entendia mais quase nada do que ele próprio redigira!

Obviamente, é mais fácil para ele recuperar o alemão se voltar a estudá-lo do que para quem nunca teve contato com essa língua aprendê-la do zero. Acredita-se também que muito do que se aprende acaba introjetado na mente da pessoa, e esse conhecimento se incorpora à personalidade dela, ajuda a constituir sua postura perante o mundo, a vida. Em suma, o aprendizado não se perde, ele apenas se dilui no indivíduo.

Memory

De qualquer forma, chega a ser frustrante adquirir tanto conhecimento – seja por meio de estudo formal, seja por outros meios, como o contato com pessoas, obras de arte, civilizações diferentes etc. – e verificar, após certo tempo, que parte daquilo está escondido em algum ponto da memória ou mesmo perdido para sempre (sabe-se lá!).

O uso frequente de um saber o cristaliza, mas quem usa frequentemente tudo o que aprende? A memória tem seus truques, é seletiva, engana. O cérebro em si tem seus mecanismos de autoproteção e controle. A idade por vezes compromete a capacidade de recordação. O conhecimento tem adversários poderosos.

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O pior é saber que sabe e não lembrar exatamente quando mais precisa! Quantas vezes não me peguei buscando no Google uma resposta que, em outro momento, eu teria na ponta da língua? Quantas vezes não desisti de um debate simplesmente porque me deu branco? Cadê os argumentos que pensava saber de cor e salteado?

Por essas e outras, gosto de escrever. Essa é uma forma de registrar o que penso, aprendo, vivencio. Mesmo que seja para, um dia, tal como meu amigo, eu reler meus escritos e ter a surpresa de lembrar o quanto já soube mais. Resta um consolo: a informação se desbota como as antigas fotografias, mas a maturidade que ela ajudou a construir fica. Não seria isso mais importante?

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2 respostas para Conhecer, lembrar, amadurecer…

  1. Lia disse:

    Poderia ampliar o ”share” via e-mail. Envelopinho para enviar a um amigo onde?

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