Há anos, alimento o sonho de uma TV personalizada. Nada desse negócio de grade de programação com horário definido! Pode parecer natural, mas, pensando bem, chega a ser absurdo o telespectador ter a obrigação de estar diante da televisão em determinado horário para assistir a seus programas preferidos. Felizmente, isso está acabando!
Meu sonho começou a concretizar-se quando o YouTube passou a oferecer ao internauta a opção de montar, nessa plataforma, uma seleção de canais. Mais que isso: permitiu a produtores de vídeo — profissionais e amadores — lançar seus filmes com baixo custo. Quer melhor exemplo que o grupo de humor Porta dos Fundos? Ele conquistou rapidamente milhões de fãs em seu canal no YouTube, a ponto de seus integrantes estarem hoje (ironia do destino) em comerciais e programas da TV tradicional (inclusive a americana Fox). Claro que o YouTube ainda tem limitações. De qualquer forma, já representa um avanço e tanto!
Agora, salto mesmo deu o Netflix. Não por acaso, tornou-se febre. Logo, logo, vai desbancar a TV por assinatura. O consumidor não é burro: por que pagar uma grana preta por dezenas de canais que ele não tem tempo de ver (em certos casos, nem vontade, pois a maioria só exibe banalidades) quando pode pagar menos de R$ 20,00 por mês e ter acesso a centenas de filmes e seriados?
O Netflix é uma locadora virtual que, graças à tecnologia do streaming, permite ao telespectador dispensar o longuíssimo recurso do download e ver seus programas com qualidade de imagem (a qual, aliás, pode ser exibida no aparelho de TV, bastando para isso conectar um cabo do computador à televisão), agilidade de transmissão e, o melhor de tudo, quando bem entender. Não há a sujeição à ditadura da grade horária.
Claro que essas novas tecnologias audiovisuais têm muito a avançar. A TV tradicional, por exemplo, quase nunca falha. O programa no ar não “trava”. Ela é de graça, quando se trata de canais abertos. Há fartura de conteúdo nacional. Os telejornais e os jogos só fazem sentido ao vivo. Enfim, meu entusiasmo com o YouTube e, principalmente, com o Netflix, não me leva a demonizar a TV tradicional, por pior que ela esteja.
Acontece que não vejo como, em médio prazo, opções como o Netflix não roubarem público numeroso das tevês abertas e por assinatura. Vários amigos e eu mesmo já desistimos delas. Só assistimos a um ou a outro programa, como jogos e telejornais, pelos motivos que já apresentei no parágrafo anterior. Cancelamos nossas assinaturas de canais a cabo. Estamos viciados em séries que, de longe, superam as telenovelas, esse produto cabeça-dura, resistente a mudanças e cada vez mais demodé.
Resistir ao século 21 é inútil. Se não houver nenhuma hecatombe que destrua cabos de fibra ótica, satélites e torres de transmissão de sinais digitais, entre outros aparatos tecnológicos, a TV, tal como se conhece hoje, está com os dias contados.
Não tardará o tempo em que os bebês de agora darão gargalhadas quando ouvirem seus pais, tios e avós contarem que precisavam estar diante da TV pontualmente em certo horário se quisessem ter a única chance de ver um programa. Não viu, já era! Quantos não deixaram — e alguns ainda deixam — de sair para jantar fora ou tomar uma cerveja com os amigos porque não queriam perder o capítulo da novela ou aquele especial sobre o Japão!
O fim das grades horárias inflexíveis das emissoras é o grito de liberdade do telespectador. Uma vez livre delas, ele poderá finalmente escolher quando, como, onde e o que ver. Se dominar idiomas, então! Adeus barreiras, adeus fronteiras! Bem-vindo, século 21!