Muito pouco me incomoda tanto neste mundo quanto situações mal resolvidas – ou não resolvidas de jeito nenhum. Gosto de ciclos fechados, histórias com começo, meio e fim. Chego ao cúmulo de preferir alguns desfechos tristes a uma gangorra ininterrupta de dores e prazeres. No entanto…
Soluções definitivas são artigos nem sempre disponíveis no mercado. Volta e meia, faltam. A vida tem espaço de sobra para pendências, etapas incompletas, suspensões abruptas. A morte súbita de alguém, sobretudo jovem e saudável, é exemplo inegável, dos mais lamentáveis e, para muitos, incompreensível.
E relações que acabam sem mais nem menos? E amantes que desaparecem sem dar qualquer explicação e jamais regressam? E suicídios improváveis de pessoas aparentemente felizes (soube de um jovem que se matou pouco depois de ser pai)? Em ocasiões como essas e muitas outras, faltou arremate. Algo ficou em suspenso.
Pode-se até argumentar que o imprevisto é uma forma de conclusão. Términos inesperados de relacionamento, sumiços e suicídios – mesmo que inexplicados ou inexplicáveis – seriam uma forma de desenlace, de fechamento de uma dada situação. Talvez. Mas, ainda assim, não valem como resolução. É como arquivar um caso policial mesmo sem ter desvendado o crime porque faltaram provas.
Em outras palavras, meu incômodo, que deve ser o mesmo de muita gente por aí, não está apenas e simplesmente na falta de epílogos para as histórias, mas na ausência de soluções definitivas para elas. Afinal, o desfecho de um romance ou de um filme pode ficar em aberto e, ainda assim, manter-se interessante. Na vida concreta, porém, essa abertura gera angústia em numerosas pessoas, como eu mesmo.
Com a banalização da expressão “fechar a Gestalt”, não falta quem deseje que o todo seja superior à soma das partes. Busca-se um sentido. Tenta-se completar o quebra-cabeça ou os diversos quebra-cabeças. Muitas vezes, em vão.
Talvez, por trás de cada mistério, haja uma explicação que sempre chega com atraso. Não é o que se costuma dizer da ciência em relação à mística? Bem, indagações à parte, só sei que, em termos de vivências (não de pensamentos e posições), prefiro pontos finais a reticências. É meu jeito. É o jeito de muita gente. Ponto.
Assertiva inicial, de preferir ponto final às reticências me sacudiram porque adoro reticências, mas ao ler o texto, concordei com você quando explicita: “…em termos de vivência, não de pensamentos e posições…” . Gostei de te conhecer…
Elizabeth Carvalho, em primeiro lugar, muito obrigado por seu comentário. Em segundo, obrigado também por ter lido o artigo até o final. Muita gente desiste de um texto só porque discorda das primeiras plavras dele. Você não. Você me deu e deu a si mesma a chance de ir até o fim antes de tomar uma posição. Isso é raro. Também gostei de tê-la conhecido por aqui. A propósito, há um outro artigo neste blog que pode agradar você até mais que este. Chama-se “Paixão pelo próprio pensamento”. Está na categoria “Comportamento”. Tem muito a ver com o que vc aparentemente pensa, ou seja, ser favorável às reticências no plano do pensar. Abraço.
Obrigada, também, por ter lido o meu comentário. Vou atender à sua sugestão e conhecer o texto indicado. Obrigada…
muito bem, house!! só não esqueça que em nossa racinha involuida, a imprecisão, a incerteza e o imponderável são a regra!