Acamado com pneumonia, entre um e outro sono mais ou menos leve, entre uma e outra crise de tosse mais ou menos profunda, vi na enfermidade uma oportunidade, algo bem ao gosto dos gurus da Administração. Longe do trabalho, pude dar-me ao luxo de pensar com calma sobre o que vejo, ouço, leio e até o que eu mesmo penso. Resultado prático: um poço “até aqui” de dúvidas.
Detenho-me em uma apenas, para não me alongar demais: o Brasil está, em geral, mais conservador, mais inclinado a reformas, nem um nem outro ou, na verdade, a multiplicação de meios de comunicação de massa, capazes de amplificar e disseminar muito mais vozes, dá a impressão de que umas ou outras têm mais defensores?
Elegi essa dúvida porque o recente noticiário nacional e internacional e a repercussão dele junto a articulistas e aos brasileiros que conheço têm dado ocasião a comentários os mais diversos, muitas vezes díspares, sem contar as teorias conspiratórias. Essa fartura de opiniões conflitantes despertou minha atenção e aguçou minha curiosidade.
Mencionei dúvidas. Realmente, a própria pergunta sobre o Brasil estar mais conservador ou reformista (ou nenhum) engendra outras tantas:
1- O que significa ser conservador hoje em dia?
2- O que significa ser reformista atualmente?
3- Haveria uma divisão nítida entre essas duas posições ou elas poderiam mesclar-se?
5- No de caso haver realmente uma polarização extrema entre o pensamento conservador e o reformista, qual deles estaria na dianteira, isto é, contaria com mais adeptos?
6- Como calcular o número de adeptos convictos de uma e de outra corrente de pensamento e ação?
7- Os meios de comunicação favoreceriam algum lado? Quais meios? Como? Quais meios beneficiariam quais lados?
Leio e ouço impressões, opiniões, análises. Evidentemente, algumas me parecem mais fundamentadas que outras. Nenhuma, porém, consegue tirar-me do poço de dúvidas. A única saída é continuar lendo, ouvindo, dialogando, refletindo.
Posso não chegar a uma conclusão cabal (até porque certezas absolutas me assustam, incomodam e preocupam), mas ao menos terei idéia de qual rumo o Brasil pode estar tomando. Situar-se é o mínimo que se pode fazer. Ao menos por enquanto.