Quem não conhece pelo menos um sujeito que adora fazer o outro sentir-se ingênuo, principalmente quando discorda dele? Pois é… Como se diz por aí, com toda a razão, esse é o tal metido a esperto.
O mais curioso é que as pessoas referem-se assim a esse tipo porque, na verdade, ele não é tão perspicaz quanto acha e gosta de parecer. Geralmente, ele não passa de um cínico vaidoso que nutre e dissemina desconfianças exageradas; críticas maliciosas; análises políticas, econômicas e sociais “maquiavélicas” (no sentido banal do termo); teorias conspiratórias e, em casos extremos, até delírios de perseguição.
Dialogar com o metido a esperto é, na maioria das vezes, perda de tempo. Até porque não chega a ser um diálogo. O metido a esperto dificilmente presta atenção no que ouve. Prefere falar. Quando ouve atentamente, logo discorda ou, no mínimo, sente-se no dever de dizer algo que vá muito além do que ouviu. E como aprecia elogios! Aliás, elogiá-lo pode servir até como forma de desarmá-lo.
O metido a esperto, claro, acha-se acima da média. Subestima os outros em quase tudo: inteligência, visão de mundo, experiência de trabalho, de relacionamento, de vida enfim. Adora ensinar. É professoral sem o perceber. Muitas vezes, soa ingênuo quando mais se esforça para dar a impressão de astuto.
Acredito que a maioria das pessoas, em algum momento, derrapa na ingenuidade da esperteza – um paradoxo, eu sei, mas que não me canso de observar por aí. Quantas vezes, eu mesmo fui todo serelepe revelar um pensamento a alguém com a certeza de estar sendo sagaz e original e, para meu desapontamento, quem me ouviu fez aquela cara de “É mesmo? Se você não me dissesse, eu nunca descobriria…”!
Pior é quando seu interlocutor lhe diz, com sinceridade nos olhos e a maior naturalidade do mundo: “Tem razão. Já tinha pensado nisso.” Felizmente, como tantas outras pessoas, tomo cuidado para não agir sempre assim (de preferência o mínimo possível). Humano que sou, às vezes tal atitude simplesmente me escapa, para minha própria vergonha…
Em suma, vejo o metido a esperto como um presunçoso. Acha que estudou mais, leu mais, viajou mais, enfim, sabe mais do que qualquer um. De vez em quando, ele esbarra em um corajoso que lhe recoloca os pés no chão. Fica um tanto constrangido, disfarça a arrogância e muda de assunto ou de ambiente. Às vezes, simplesmente se comporta como se a discussão com quem o desafiou nunca tivesse começado ou nem sequer ocorrido.
Um de meus ditados preferidos é: “O mau do esperto é achar que só ele é esperto.” Daí o paradoxo da esperteza ingênua, no qual vejo incorrer, sobretudo, intelectuais ainda “verdes” e, principalmente, falsos intelectuais (os tais “intelectualóides”). Intelectuais de fato, e maduros, sabem que subestimar a inteligência do outro é indício de sua própria limitação cognitiva. Os sábios, então, enxergam sabedoria até nas pedras! Não subestimam nada nem ninguém.
Pena que o mundo esteja cheio de gente metida a esperta, sempre pronta a explicar o que a maioria já sabe, a tentar constranger quem não se autopromove, a opinar até sobre o que desconhece, a ensinar Padre Nosso a vigário, como bem ilustra outro adágio popular!
Bem… Talvez eu mesmo esteja agindo agora como um metido a esperto, ao tomar tempo de meus poucos e fiéis leitores com a descrição óbvia de um tipo que todos conhecem. Mas, por favor, não me levem a mal. A verdade é que este texto nada quer ensinar. O autor confessa que o redigiu apenas com o intuito de desabafar, de compartilhar um incômodo. Aceitem minha sincera gratidão pela boa vontade e pela generosidade de chegarem até o final deste artigo. Até breve!