Há quem pense que se expressar na primeira pessoa do singular é sinal de egocentrismo ou mesmo de pretensão. Pode ser que alguns, ao privilegiar o “eu” – em detrimento do “nós” ou do “ele/ela” ou de “eles/elas” etc. –, de fato só tenham olhos para o próprio umbigo. Mas não acredito que esse seja o caso de todos, talvez nem mesmo da maioria. Aos porquês!
Em primeiro lugar, quem melhor que a própria pessoa para assumir suas posições e defendê-las? Em segundo, no caso de relatos, quem melhor que o próprio protagonista ou testemunha da experiência para narrar o que ocorreu? Em terceiro, bem… Nesse, preciso me alongar um pouquinho. Merece parágrafos à parte.
Meu terceiro argumento para defender quem se expressa na primeira pessoa do singular bate de frente com a posição de quem acha que isso é sinal de egocentrismo ou pretensão. Penso exatamente o contrário. Em muitos casos (reitero: não em todos), quem adota a primeira pessoa do singular está sendo humilde. Isto mesmo: humilde. Afinal, está restringindo, seja seu pensamento, seja seu relato, seja o que for, a sua própria perspectiva, a sua própria vivência.
Quem opta pela primeira pessoa do singular não se atreve a pronunciar-se em nome dos outros. Não se arroga esse direito. Não presume que tem o apoio da maioria, nem de quem quer que seja. Assume sozinho a responsabilidade pelo que diz. Portanto, respeita os demais. Evita, com maior facilidade, a armadilha da generalização.
A generalização, sim, é pretensiosa! Supor que todos ou a maioria pensem ou devam pensar dessa ou daquela maneira é sinal de arrogância, para dizer o mínimo. Cumpre excetuar, nesse caso, o emprego do “plural majestático”, também chamado “plural de modéstia”, quando se usa a primeira pessoa do plural (“nós”) em textos acadêmicos.
Nessa situação específica, há a tentativa do autor de parecer elegantemente modesto – até porque dissertações e teses são obras que envolvem, além do pesquisador, no mínimo um orientador (além de eventuais entrevistados e outros autores). Curiosamente, mesmo no âmbito da universidade, já se aceitam alguns textos em primeira pessoa do singular. O mesmo tem valido – ainda que em menor escala – no campo do jornalismo. Na literatura, claro, desde sempre, o narrador-personagem é muito bem-vindo!
Portanto, parece-me precipitado e injusto julgar mal quem se manifesta na primeira pessoa do singular. Convém observar caso a caso, com o devido cuidado e, se possível, desprovido de preconceito – sob o risco, aliás, de ser mais personalista que seu acusado.