O preço da sedução.

O que mais me chama a atenção em qualquer narrativa – relato oral, romance, peça teatral, balé, filme, telenovela, o que for – é o tema (ou os temas, quando há mais de um). Em “Amores Roubados”, atual minissérie da TV Globo, o que mais me atiça o pensamento é o tema da sedução, expresso na postura do personagem principal, Leandro Dantas, papel de Cauã Reymond.

Cauã Reymond no papel do sommelier Leandro. Cauã Reymond no papel do sommelier Leandro.

Não faltam tipos como o dele na história da ficção e, claro, na história real. Don Juan e Casanova são apenas os mais célebres. Há, entretanto, outros tantos exemplos na literatura. Em carne e osso, também há numerosos. Todo o mundo conhece ou conheceu no mínimo um homem sedutor que usa e abusa de sua capacidade de conquistar mulheres (eventualmente, homens também).

Leandro Dantas é mais um. Vai para a cama com a mulher de um amigo de seu patrão. Depois, seduz a esposa do próprio patrão. Por último, conquista também a filha deste. Em um primeiro momento, Leandro sente-se totalmente seguro de si. Acredita que “pega”, mas não se apega. Mulheres, para ele, são fáceis e descartáveis. Até que uma delas – previsivelmente a mais jovem e bonita – mexe com ele.

Chega, então, o momento de Leandro escolher entre o que lhe parece um amor verdadeiro e as aventuras sexuais. Ele se mostra inclinado à primeira opção. Por quê?

Antes de prosseguir, alerto que, nesta breve reflexão sobre o tema “sedução”, opto por privilegiar a análise da ficção em cartaz na Globo. Dela, pode-se talvez extrair alguma conclusão sobre a sedução no mundo real.

Em “Amores Roubados”, Leandro parece ser mais que um cafajeste, e o fato de estar envolvido com três mulheres bem diferentes entre si talvez ajude a entendê-lo melhor.

Leandro vai para a cama com Celeste, papel de Dira Paes, e nada sente por ela além de atração sexual porque vê nela uma aventureira fogosa como ele – ou não trairia o marido com tanta facilidade e ousadia. Leandro não consegue amá-la, possivelmente porque, intimamente, não a respeita ou, no mínimo, não a leva a sério. Então, não se ilude, nem a ilude. Trata-a como amante e pouco se importa se ela, insaciável, deseja-o só para si. Com Celeste, portanto, Leandro expressa claramente seu lado mulherengo, cafajeste.

Com Celeste (Dira Paes), somente sexo. Com Celeste (Dira Paes), somente sexo.

Isabel, interpretação de Patrícia Pillar, é outra ponta do triângulo “amoroso” (uso aspas porque prefiro não chamar de “amor” o que os personagens vivem até o atual momento da trama). Diferentemente de Celeste, Isabel não é exatamente uma aventureira. Ela, de fato, apaixona-se por Leandro, uma paixão que se pode considerar casual e até improvável, e ele parece sentir algo além de atração física por ela.

Talvez haja em Leandro, em relação a Isabel, um misto de fantasia e desafio (Isabel é a mulher de seu austero patrão), além de admiração, pois há nela um componente intelectual, sensível, ausente em Celeste (e possivelmente na maioria das mulheres com quem ele se envolveu até então). Não por acaso, Leandro presenteia Isabel com um livro de poesia. Há, portanto, algum sentimento entre os dois e não meramente paixão carnal, ainda que toques íntimos e palavras sensuais dele, assim como a possibilidade de sexo com o belo jovem, tenham tirado Isabel da apatia pela vida ao lado de um homem autoritário e quase insensível.

Com Isabel, fetiche e admiração. Com Isabel (Patrícia Pillar), fetiche e admiração.

A última ponta do triângulo é Antônia, papel de Ísis Valverde. Ela vem, aparentemente, desempatar o jogo. Jovem, bonita, desimpedida, rica, instruída, desprendida, segura de si e irreverente, pode ser a “princesa encantada” de Leandro. Parte de Antônia a primeira investida no affair dos dois. De certa forma, o papel se inverte, e Leandro, de sedutor, passa a seduzido. Ambos entregam-se à paixão.

Com Antônia (Isis Valverde): amor de verdade? Com Antônia (Ísis Valverde): amor de verdade?

Mas, a essa altura do campeonato, o jovem mancebo já contraiu débitos que talvez não consiga mais quitar. Como reagirá Celeste ao descobrir que o perdeu de vez? Não se sentirá tentada a ameaçá-lo, a chantageá-lo? Isabel, sentindo-se traída (Leandro já a deixou de lado, mas ela ainda não sabe que o principal motivo disso é a própria filha), tem ímpetos suicidas. Qual poder de perturbação teria a culpa sobre a cabeça do jovem Leandro caso Isabel se matasse ou o marido o fizesse, por causa do quase adultério?

Os dois maridos traídos deverão cobrar suas contas – de Leandro e de suas respectivas mulheres. Jaime Favais, papel de Murilo Benício, já descobriu a relação da esposa com seu empregado e tomou providências para desaparecer com ele. Se isso de fato ocorrer, como Isabel receberá a notícia de que Leandro sumiu do mapa repentinamente? E Antônia? Como reagirá se souber que, após ter ouvido de Leandro declaração de plena sinceridade, este omitiu ter mantido um caso justamente com a mãe dela? Ainda confiará nele? O romance dos dois terá futuro?

Murilo Benício no papel do austero Jaime Favais. Murilo Benício no papel do austero Jaime Favais.

Os próximos capítulos de “Amores Roubados” mostrarão o destino de Leandro Dantas, esse Don Juan do agreste. Enquanto isso, no plano da realidade, pode valer a pena ter na minissérie um ponto de partida para refletir (ou voltar a refletir) um pouco sobre o tema da sedução. Afinal, ela é uma forma de poder, e o uso do poder, como se sabe, tem  conseqüências (às vezes, bem sérias).

Ademais, no âmbito da sedução, há contradições curiosas. Sexo e paixão são vida. Mas também são causas de morte. São fontes de prazer, mas também de dor (muitas vezes, de uma dor insuperável).

A sedução tem, enfim, seu preço. Leandro Dantas conseguirá pagá-lo e ter um final feliz? Fora da ficção, há exemplos de êxito e de fracasso – alguns temporários, outros permanentes. Em suma, a sedução é sedutora. E é, acima de tudo, um risco. Resta saber se e quando vale a pena corrê-lo.

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