Falta menos de duas semanas para o Natal, e o clima que sinto é de faxina. Parece que toda a sujeira do meu edifício mental veio à tona. Saiu de debaixo dos tapetes, desceu do alto dos armários, subiu de debaixo da cama, despencou do teto. Está tudo empoeirado, tudo revirado. O ano chega ao final e pede, com urgência, uma senhora limpeza!
Fico pensando se há mais gente na mesma situação. Provavelmente há. Embora eu não dê a mínima para astrologia, fico me perguntando se, de fato, não há algum tipo de conjunção astral que provoque turbulências justamente em finais de ciclo. Talvez Freud explique melhor. Seja no plano consciente, seja no inconsciente, pode ser que brote uma cobrança íntima: o que consegui realizar nesta etapa e o que conseguirei na próxima?
Não sei… O fato é que me pego recordando, revendo, repensando quase tudo. É como se eu estivesse fechado para balanço. Só depois de concluída a contabilidade, terei como decidir um rumo a tomar. Por enquanto, vejo apenas poeira a minha volta – e aqui poeira é sinônimo de dúvida.
Por causa desse clima de limpeza geral, ando sem jeito até para sair por aí desejando boas festas. Faltam-me humor e disposição para isso. Claro que desejo a todos os familiares, amigos, colegas e conhecidos um ótimo Natal e um ano novo muito melhor. Só não consigo é abrir um sorriso de orelha a orelha quando meu coração anda apertado, e minha cabeça, agitada. De novo, me socorre a analogia da faxina: todo sujo de poeira, como posso querer abraçar alguém?
Suponho e desejo que, até a noite de Natal propriamente dita, eu esteja limpo e límpido. Em viagem, longe do cenário cotidiano e da rotina estressante, essa possibilidade é real. Antes disso, porém, estou imerso no pó. Os que de mim se aproximam correm o risco de sair espirrando. E há os poucos que não ligam de me ver assim de cara suja. Geralmente, são os amigos mais sinceros.
Conheço gente que se deprime no Natal. Eu mesmo já me senti deprimido nessa época do ano. Desta vez, porém, o que me toma não é exatamente tristeza. É a sensação de bagunça, de casa desarrumada, como se o mundo e meu mundo estivessem ambos de pernas para o ar. Quem sente ou já sentiu isso pode me compreender.
Enquanto isso, lá fora, luzinhas brilham, papais noéis vendem sorrisos e brinquedos, bares e restaurantes faturam alto com as tradicionais confraternizações, amigos secretos revelam seu bom ou mau gosto para dar presentes, os mais corajosos enfrentam filas longuíssimas para entrar e sair dos shopping centers, os religiosos clamam (quase sempre em vão) por mais paz e amor no mundo, muitos lembram o nascimento de Jesus para que outros também lembrem que isso não ocorreu realmente em 25 de dezembro, as emissoras de TV repisam e reprisam reportagens e histórias natalinas, a chuva de verão cai impiedosa sobre morros e mortos, as redes sociais enchem-se de cores e palavras doces…
E o mundo gira, gira, gira, até que alguns, como eu, fiquem tontos, cambaleiem, parem e pensem: de onde vim, onde estou, para onde vou?
“And so this is Christmas…”
Bacana o texto, faz todo o sentido para mim. Acho que o periodo e de balanco mesmo… de alegria, mas com uma certa melancolia no ar tambem.
Valeu, Padi! Acabou que a gente nem conversou sobre blogs…
Me sinto assim todos os anos… E além da faxina mental, fico louca para limpar a casa, jogar coisas fora, doar outras, finalizar histórias… E acho isso bom. Qdo consigo, começo o ano leve. 🙂