Quem não tem um parente, um amigo, um conhecido que interpreta tudo ao pé da letra? É preciso explicar para ele que a “vontade de estrangular alguém” é apenas uma maneira exagerada de manifestar uma irritação momentânea.
Gosto de refletir sobre comunicação. É minha principal área de formação profissional e dela tiro meu sustento. Independentemente disso, tenho prazer em observar e pensar a respeito da comunicação, sobretudo nos ruídos que há nela. Um deles é justamente a interpretação literal.
Uma desvantagem em ser literal é perder o tempero do discurso. E é raro um discurso sem condimento. Daí o ruído na comunicação. Os palavrões são apenas a parte mais visível desse fenômeno. O literal pode perder a cabeça se ouvir “filho da p…” mesmo fora do contexto de uma briga, por exemplo.
A situação contrária também é comum. “Amor da minha vida” ou “estou apaixonado” podem ser meras demonstrações de aprovação na boca (ou no teclado) de um tipo escandaloso. Não precisam gerar constrangimento nem preocupação. Mas nos literais…
Brasileiros têm o hábito de dizer “estou chegando” quando estão apenas no meio do caminho. Muitos estrangeiros não entendem a elasticidade dessa afirmação. “Daqui a pouco, estou aí” pode significar, no Brasil, uma espera de até uma hora. Um alemão perderia a paciência.
“Prefiro a morte a fazer isso” é o tipo de comentário que escandaliza uma pessoa literal. As generalizações também assustam quem interpreta tudo ao pé da letra: “Esses americanos são uns sacanas”. Na maioria das vezes, quem diz isso adora os EUA. Faz um comentário solto, despretensioso, apenas para não ficar calado.
As pessoas literais correm o risco de perder, além do tempero, o próprio alcance do discurso. Ter a noção do que o outro realmente quer dizer exige presença de espírito, flexibilidade, humor e até certa sagacidade, para identificar ironias, sutilezas, entrelinhas e mesmo a simplicidade de um comentário protocolar. Com isso, evitam-se ruídos, inclusive os mais insólitos.
Minha professora de português na universidade relatou à turma, uma vez, que esteve na casa de uma pessoa que criava gatos. Ao chegar, o anfitrião perguntou-lhe se ela gostava desses bichos, e ela respondeu que sim. Mais que depressa, ele colocou um de seus felinos no colo dela. Difícil…
Como v/c diz que eu sou muito literal, será que eu chegaria a tanto?
Não chega a tanto, mas é bem literal.
Muito bom! Em varios momentos, o humor depende tambem de uma ausencia de “literalidade” (se e que existe este termo).
Sem dúvida, “Padi”!
eu sofro….
Acho que muita gente sofre com isso, Danilo! Obrigado pela leitura e pelo comentário. Abs.
Lembrei das inúmeras vezes que me senti uma retardada quando era a única que não entendia a piada ou quando me dizem “vc fez exatamente o eu te pedi, mas não era isso que eu queria”….
Será que as pessoas literais tem uma “tendência” a confiar demais nas pessoas? hahahahahaha
Um exemplo (entre muitos outros) disso foi uma vez que vi na TV alguém falando: “Depois de um ano que fulano ‘desapareceu’….” e eu não percebi que esse ‘desapareceu’ significava na verdade que ele tinha morrido o.O
Enfim…. a única coisa que posso fazer é rir disso, já que vai ser difícil eu mudar meu jeito hahahahahahahahahahahahahha
Bom texto… não vejo falar muito sobre esse assunto hahahahahaha
Obrigado por seu comentário, Gabriela! Bem-vinda ao blog! Sempre. Abraço.