Acabo de ver um documentário sobre a história do rock. Reúne depoimentos muito interessantes de gente que faz parte dessa história, como Little Richard, Mick Jagger, Bruce Springsteen, Bono, entre dezenas de outros. O que mais me marcou, no entanto, foi a informação de que as primeiras estrelas do rock foram alvo de censura e perseguição.
Vale lembrar que a maioria dessas estrelas era negra, e os Estados Unidos da década de 1950 ainda nutriam um racismo profundo, causa de posturas segregacionistas que jamais poderiam antecipar a eleição, meio século depois, de um presidente negro. Portanto, o rock dos primeiros anos era “black music” e incomodava a elite branca.
Elvis Presley e Buddy Holly vieram embaralhar as cartas. Os remelexos sensuais de Elvis confundiram o establishment, que não tinha mais como responsabilizar apenas os negros por aquela espécie de transgressão musical, que incluía a dança. O mundinho bem-comportado e insosso dos brancos estadunidenses balançava ao som dos primeiros acordes do rock’n roll.
Pais e filhos não mais ouviam a mesma música, e o rock acabou por instalar um conflito de gerações. Os roqueiros de então tinham consciência do que estavam provocando. Era uma revolução cultural: negros como protagonistas, verdadeiros rock stars; brancos os reverenciando e imitando; jovens dançando e cantando ritmos alucinantes; a moda abrindo espaço para a irreverência.
Os adeptos da tradição chiaram. Depois, agiram. Seus representantes políticos deram um jeito de dificultar a carreira e a vida dos pioneiros do rock. Em certa medida, tiveram êxito. Muitos roqueiros afastaram-se dos palcos. Mas, se os “caretas” venceram batalhas na época, perderam a guerra (e o bonde) da história.
É curioso olhar para trás e pensar que as manifestações de preconceito foram em vão. O rock não apenas sobreviveu como se tornou um dos gêneros musicais mais poderosos da história tanto da música quanto da humanidade.
Vale a pena olhar para o presente também e perguntar-se até quando os conservadores perderão seu tempo protestando contra certas mudanças e novidades. Será que não se dão conta de que são impotentes diante da História? Será que não conseguem enxergar a diferença entre conservar e retardar? Podem até atrasar as mudanças, mas é impossível conservar para sempre o que quer que seja.
parece besteira, mas lembrei de footloose, fábula inocente [mas emblemática] sobre o poder do rock sobre uma sociedade conservadora. a incapacidade de lidar com o novo e – especialmente, com o “incompreensível e incontrolável” realmente desestabilizou a sociedade da época e balançou alicerces. como afirmou o mestre Angeli, em crônica de 1986: “a lambada é passageira, apenas o rock é eterno”!!
ag
Depois tente ver esse documentário. Vale a pena.