Enquanto redijo, ouço “Stay (Faraway, so Close)”. É de propósito porque uma estrofe dessa canção do U2 diz:
Faraway, so close
Up with the static and the radio
With satellite television
You can go anywhere
Miami, New Orleans
London, Belfast and Berlin
[Algo mais ou menos como: Distante, tão perto / Com a eletricidade e o rádio / Com a televisão a satélite / Você pode ir a qualquer lugar / Miami, Nova Orleans, Londres, Belfast e Berlim.]
http://letras.mus.br/u2/1048917/
O tema deste post é justamente a comunicação entre as pessoas – ou a falta dela. Esta é uma contradição que, volta e meia, alguém recorda: apesar do número cada vez maior de meios de comunicação, as pessoas parecem se entender cada vez menos. Decidi colocar meu tijolinho neste muro – sim, muro, pois muros dividem, e o que tenho visto é muita divisão por falta de uma comunicação verdadeira.
Quase perdi um amigo por causa de mensagens por e-mail. Foram quatro meses de afastamento após a troca de textos duros, ásperos, ofensivos. Curiosamente, depois que fizemos as pazes, concluímos que não teria havido briga se tivéssemos conversado por telefone ou pessoalmente. Todo o mal-entendido se deu porque, nas mensagens escritas, faltou o que costuma faltar nelas: o tom de voz, o olhar, a expressão facial, entre outros elementos que ajudam a interpretar um discurso.
Recentemente, tive novo desentendimento com um amigo. O motivo dessa vez foram mensagens via Facebook e Whatsapp. Estamos afastados, o que muito me entristece porque realmente o tenho em altíssima conta.
Sem espaço e tempo suficientes para expressar meu pensamento e, de novo, sem os preciosos recursos do tom de voz, do olhar, da expressão facial, acabei irritando meu amigo, e ele, por sua vez, acabou por me chatear também. Curiosa e ironicamente, eu vivia alertando-o para que tomássemos cuidado com a troca de mensagens a distância, pois eu já havia tido problemas com isso.
Esses dois amigos protagonizaram as situações mais relevantes, mas não foram os únicos. Há outros com quem quase briguei ou que quase brigaram comigo por causa de interpretações equivocadas de textos redigidos às pressas em mensageiros eletrônicos. Onomatopéias (como “rsrs”, “kkkk”, “hehehe” e “hauhauhau”) e emoticons (as tais “carinhas” amarelas) parecem insuficientes para garantir uma comunicação fluida, livre de ruídos comprometedores.
Claro está que a responsabilidade pelos mal-entendidos não deve recair exclusivamente sobre os novos meios de comunicação instantânea. Obviamente, por trás das máquinas, há pessoas. São inegáveis, todavia, os limites dos mensageiros eletrônicos, entre eles a dificuldade de se detectar e interpretar a ironia e, em casos extremos (mas não raros), de compreender devidamente palavrões (um “filho da puta”, em bom português brasileiro, pode ser tanto uma ofensa gravíssima quanto um gesto de íntima camaradagem).
Nada substitui a presença física, o olho-no-olho. É uma pena que, por serem práticos, esses dispositivos estejam substituindo o contato cara-a-cara – inclusive quando dois ou mais amigos estão frente a frente! Quem nunca esteve sentado a uma mesa em que cada um teclava em seu celular como se estivesse sozinho ali?
Talvez seja o caso de adotar, com os mensageiros instantâneos, o mesmo alerta que se faz às bebidas alcoólicas: usá-los com moderação. Afinal, demonstrado está que eles viciam e podem ser prejudiciais à saúde das relações interpessoais. Aproximam, mas também afastam. A comunicação rápida e gratuita pode custar caro, ou melhor, pode arriscar algo que não tem preço e se leva tempo para (re) conquistar.