Melancolia é um estado psíquico. Melancolia é um planeta fictício. Melancolia é o título de um filme sobre esse estado psíquico real e esse planeta fictício.
Justine (Kirsten Dunst), a personagem principal, é melancólica. Assim, a iminência do fim do mundo não lhe parece tão trágica, catastrófica, lamentável. Pode representar o fim de sua melancolia e, especialmente, do que lhe causa melancolia.
“Melancholia”, o filme, não tem final feliz. Melancolia, o planeta, colide com a Terra e a destrói por completo. É o fim da história (do filme) e da História (no filme). Justine, a melancólica, no fundo, está em sintonia com os astros.
Em “Melancholia”, não há redenção. Não há vida após a morte. Não há Deus. Não há esperança alguma. Nem mesmo na ciência. Se a vida é um acidente, um acidente pode exterminá-la. De nada terão valido séculos de cultura diante de uma catástrofe natural de dimensão planetária.
Não por acaso, os poucos personagens realmente importantes do filme pertencem à classe A. São aristocratas. Têm motivos de sobra para apegar-se à existência em toda a sua materialidade. No entanto, suas vidas têm pouco ou nenhum sentido, pouca ou nenhuma graça. Ninguém ali parece realmente feliz.
Justine tem plena consciência disso, o que talvez explique, ao menos em parte, sua profunda melancolia. A personagem é uma deprimida crônica que não encontra satisfação nem mesmo em sua festa de casamento. E, como tal, desiste de representar aquela farsa. Renuncia aos prazeres temporários e entrega-se à desesperança.
Paradoxalmente, Justine reencontra alguma esperança quando todos a perdem. A colisão iminente de Melancolia com a Terra dá-lhe a satisfação de saber que, em breve, tudo se acabará, conseqüentemente sua tristeza também. É como se dissesse: “De que adianta viver assim? Melhor que tudo se acabe de uma vez.” E tudo se acaba.
“The Tree of Life” (Árvore da Vida) oferece o outro lado da moeda. O filme, igualmente melancólico, acaba por alimentar a esperança. Há a perspectiva da redenção, da vida após a morte (ou da ressurreição), da vida eterna. A dor pode ter fim. A separação pode ter fim. Há uma saída além da materialidade implacável do mundo, da natureza física. Há a possibilidade da graça.
O filme deixa claro, desde seu início, que há duas visões de mundo: a da natureza e a da graça. Seu desfecho parece apontar para o caminho da graça, ainda que seu desenvolvimento demonstre nitidamente a presença inevitável e poderosa da natureza.
Afinal, é preciso admitir a materialidade da existência: prazer e dor, nascimento e morte. A matéria obedece a leis naturais implacáveis, irreversíveis. Do suposto Big Bang à contemporaneidade, o planeta se constitui a partir dessas leis, das quais dá conta a ciência.
Paralelamente, pode haver a dimensão espiritual da existência, uma graça divina capaz de tudo reconciliar no futuro. A confraternização em uma praia, na última seqüência do filme, reúne e mescla passado e presente e resgata a esperança.
“The Tree of Life” aposta tanto na ciência quanto na fé. Diferentemente de “Melancholia”, em “Árvore da Vida” há salvação. Nada se acaba. A vida continua.
Dois filmes. Duas mundivisões.