É do publicitário Bastos Tigre um dos slogans mais conhecidos e resistentes da publicidade brasileira: “Se é Bayer, é bom”. Data de 1922. Coincide com a Semana de Arte Moderna. Isto mesmo: mais de 90 anos! Como a maioria do que é simples, o slogan funciona. Até hoje.
O slogan da Bayer transmite ao consumidor a autoconfiança da empresa, uma fabricante de remédios, entre outros produtos. Ao mesmo tempo, tem o poder de, em certa medida, cooptar o cliente, levando-o a adotar a frase como um bordão. Por ter muito menos de 90 anos, não sei dizer se a Bayer obteve êxito nisso, mas a sobrevivência do slogan — que me lembro de ter lido e ouvido na infância, portanto décadas após sua criação — é prova de que ele “colou”.
Recentemente, resgatei o “Se é Bayer, é bom” para apelidar uma atitude que observo em muita gente por aí, especialmente gente séria ou que se julga séria. “Complexo de Bayer” foi o apelidinho que adotei para a postura de certos debatedores, entre eles ativistas, que perderam completamente a noção de matiz e vêem tudo de forma extremista, às vezes maniqueísta.
Ao discutir política com uma conhecida, perdi a paciência quando notei que, para ela, a disputa entre governo e oposição é uma espécie de Fla x Flu ou, pior, de bangue-bangue: de um lado, mocinhos; de outro, bandidos. O partido dela, claro, é de mocinhos. Como típica portadora do “Complexo de Bayer”, ela acha que se é do partido dela, é bom. Necessariamente.
Não tenho partido. Nunca tive. Política, para mim, é algo para se observar e executar com racionalidade. A paixão cai bem nas campanhas — e olhe lá! No cotidiano da prática política, no melhor sentido do termo ‘política’, deve haver predomínio da negociação, da diplomacia. Pode até haver jogo, mas não nos moldes de uma final no Maracanã.
Fora do âmbito político, o “Complexo de Bayer” também se manifesta entre radicais simplistas (isso não seria uma redundância?) ou demagogos populistas (não seria esta mais uma redundância?) para os quais “se é pobre, é bom”, “se pertence a uma minoria, é bom”, “se sofre preconceito, é bom” e por aí vai. Evidentemente, o mesmo “complexo” também atinge aqueles para quem “se é rico, é bom”, “se pertence à maioria, é bom”, talvez com dose menor de paixão, pois há menos motivo para rancor nesses grupos socialmente privilegiados.
Ressalva: longe de mim generalizar! Não estou classificando de “Complexo de Bayer” o comportamento de debatedores e ativistas sérios, que defendem seus pontos de vista baseados em reflexões e estudos igualmente sérios. E eles não são poucos. Ainda bem! Refiro-me aos apressadinhos que fazem de certas causas espaços para expressar ressentimento e outras emoções menos nobres. Pode-se respeitar a opinião de gente assim? Só no futebol. Ou nem mesmo aí…