As traições afetivo-sexuais foram tema neste blog há pouco tempo. Prometi retomá-lo com a visão dos que supostamente nunca traem. Digo ‘supostamente’ apenas por uma questão de rigor, pois realmente acredito que essas pessoas sejam fiéis a seus parceiros ou parceiras.
Como já disse aqui, penso que o “chifre” é a regra, não a exceção. Fui, então, atrás das exceções. O que elas dizem?
Um grande amigo, que garante nunca ter traído uma parceira, mas “passa o rodo” quando está solteiro, me diz que não trai por questão de princípio. Para ele, “o chifre é desvio de caráter”. Simples assim.
Outro grande amigo, casado com uma linda jovem e feliz no casamento, aponta seus princípios religiosos como principal razão para não trair a mulher. Ele é espírita, e os espíritas crêem em evolução espiritual, que passa necessariamente por uma evolução moral. Contrariar esse princípio equivale a contrariar uma lei divina e implica a contração de karma (espécie de dívida com terceiros ou consigo mesmo).
Uma amiga íntima me revela que nunca traiu nenhum parceiro porque tem princípios éticos muito rígidos. Acha inaceitável envolver alguém sem a contrapartida da lealdade e da fidelidade. Para ela, quando se gosta, basta um, não é preciso buscar mais. Considera-se romântica e, ao mesmo tempo, correta em sua maneira de pensar e agir. Não quer ser diferente.
Tenho outro amigo, também casado, que alega igualmente princípios ético-religiosos para ser fiel à esposa com quem vive há quase dez anos. Espírita kardecista, não se permite “pular a cerca”. Não condena quem o faz, mas se nota que ele não vê a atitude com bons olhos. Seus melhores amigos parecem ter seus mesmos princípios nesse sentido.
Todas essas pessoas — especialmente os homens — admitem que sentem atração física por outras que não seus parceiros ou parceiras. Meus amigos fiéis às companheiras não deixam de notar mulheres bonitas e sensuais, mas garantem que não vão além da apreciação a distância. Entendem isso como natural, e posso apostar que suas mulheres também vêem beleza e sensualidade em outros homens. O fato é que não se permitem ir da admiração à aventura e desta a sabe-se lá o quê.
Acredite quem quiser, mas eu mesmo nunca traí. Sou como um desses amigos que menciono aqui. Envolvido com alguém, mantenho-me fiel. Solteiro, porém, fico bem à vontade. E sou assim também por uma questão ética. Além disso, só namoro se estou realmente a fim e, quando estou realmente a fim, não sinto necessidade de trair.
De qualquer forma, não condeno os que traem, ainda que em tese não aprove a traição. E não os condeno por dois motivos principais: 1- não sei o dia de amanhã, a vida é imprevisível às vezes, e pode acontecer de eu me ver tentado a trair um dia e 2- condenar é para juízes, e não sou juiz.
A conclusão que tiro das conversas sobre esse assunto, com amigos e amigas fiéis a seus parceiros, é que princípios éticos ou religiosos, ou ambos combinados, são a chave para quem resiste à tentação do “chifre”. Os demais (a esmagadora maioria) encontram argumentos os mais variados para justificar a infidelidade conjugal. Nenhum, todavia, me convence realmente de que, no condição de “corno”, reagiria bem.