Há certa soberba em ser do contra. Raramente vejo alguém discordar da maioria com base em argumentos sólidos, objetivos. Via de regra, lá está a mera vontade de parecer diferente, distinto, especial, superior. Longe de mim defender o comportamento bovino, a postura Maria-vai-com-as-outras! Mas há, evidentemente, numerosas situações em que seguir a maioria é o mais indicado – porque prático, funcional, simples.
Nem sempre é razoável contrariar o que todos pensam, querem, fazem. A maioria não está necessariamente enganada o tempo todo. Isso me parece óbvio, e o é mesmo. Só que muita gente insiste na postura infantil de ser do contra apenas para se distinguir. Outro dia, um amigo foi muito feliz na síntese que fez desse tipo de atitude. Segundo ele, há quem pretenda ser enfant terrible, mas que acaba por ser mais enfant que terrible. Acho que ele tinha em mente espectro maior que o meu agora, mas a observação dele cabe aqui.
Essa necessidade de ser diferente, de se distinguir da maioria, tem mesmo algo de pueril. Não quero chamar de retardados os que se comportam assim. Não iria tão longe. No entanto, penso que os críticos das tendências da maioria deveriam admitir a possibilidade de estar sendo soberbos e infantis. Já que pretendem ser especiais, distintos, por que não começam por adotar argumentos mais sólidos, mais razoáveis e menos emocionais?
Por que não colocam o raciocínio seco, duro, rigoroso, à frente dos ímpetos, das predileções naturais, dos preconceitos? Ou simplesmente vivam e deixem viver! Não perturbem o sono de quem pouco se importa se eles estão de preto quando a maioria está de branco ou se eles só ouvem rock de garagem britânico quando tantos se divertem com o pop made in USA! Até porque julgar pelas aparências, como fazem, é algo banal, corriqueiro, nada tem de especial, nada tem de compatível com a proposta de ser distinto e nobre. Contradições tampouco, aliás. Seria por que todos, sem exceções, gostem ou não, pertencem à mesma espécie?