Vivo repetindo por aí que privacidade é um mito. O que existe é o interesse (maior ou menor) ou o desinteresse pela vida do outro. Para obter informações sobre alguém, basta querer. Assustador, eu sei, mas convém ter os pés no chão a esse respeito.
A internet veio lançar a pá de cal que faltava para sepultar de vez qualquer resquício de privacidade. Quase tudo está na rede, e quase tudo o Google captura. Uma empresa brasileira produziu um livro inteiro, com centenas de páginas, com perfis de dezenas de pessoas, sem fazer qualquer contato com elas. Obteve na rede todas as informações necessárias (e não eram poucas!).
As redes sociais facilitam muito o acesso à intimidade de amigos e conhecidos (e até de desconhecidos). Aquilo que eles não divulgam espontaneamente, pode-se descobrir facilmente por intermédio de seus contatos nessas mesmas redes. Aliás, a palavra rede, nesse caso, se aplica em duplo sentido: o da rede que reúne contatos (network) e o da rede que “pesca” e prende.
George Orwell, o autor de “1984”, não viveu para assistir à concretização de sua profecia. O romancista jamais poderia imaginar que seu Big Brother fosse materializar-se em forma de reality show. Acertou em cheio quando previu a onipresença das câmeras de vigilância, que hoje permitem a qualquer porteiro de edifício ter a vida dos moradores na palma das mãos (e num piscar de olhos).
Vivemos a era do voyeurismo. Todos vêem todos. Todos assistem ao desenrolar da vida de todos. Basta ter interesse nisso. E a tradicional fofoca tem agora suporte de sons e imagens. Está mais abrangente e sofisticada.
Os exibicionistas estão felizes da vida. Seus minutos de fama estão garantidos. Ficou fácil mostrar-se, declarar-se, escancarar a própria vida e oferecê-la como um espetáculo. Os tímidos estão constrangidos, preocupados. Tentam proteger-se atrás dos fiapos de intimidade que ainda lhes restam. Tarefa difícil essa.
Admito que estou mais para exibicionista do que para tímido. Embora não goste da idéia de fazer de minha vida um BBB, tampouco me importo de expor ao mundo quase tudo o que penso e faço. Não tenho do que me envergonhar. Até porque estou seguro de que ninguém é santo neste mundo. NINGUÉM.
Aos tímidos, aos discretos, aos que têm algo a esconder, sugiro realismo. Pode-se até guardar algum segredo, por algum tempo, de algumas pessoas, mas não se pode guardar todos os segredos, por todo o tempo, de todas as pessoas. Melhor relaxar e, se quiser e puder, oferecer aos interessados a própria versão dos fatos.
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