Estou longe de ser feminista. Aliás, acho que sou machista. Nasci num país latino-americano onde o machismo vem de fábrica. Não é item opcional.
No entanto, tenho mãe e três irmãs. Quer dizer, sou filho único (no sentido de filho do sexo masculino) e o mais velho das três. Meus pais divorciaram-se quando eu era pré-adolescente. Minha mãe ficou com a guarda dos quatro filhos. Portanto, aprendi, desde cedo, a enxergar o mundo também da perspectiva das mulheres.
Abro parêntese: quando uso os termos ‘feminismo’ e ‘feminista’, não estou sendo técnico, especialista, acadêmico. Uso-os num sentido coloquial. Feminista, para mim, é toda mulher que defende os direitos das mulheres, busca eqüidade de gênero e não se submete a qualquer tipo de dominação masculina. Fecho parêntese.
Minha mãe foi (e é) assim (dentro de certa medida, em vista da geração à qual pertence). Minhas irmãs também (especialmente as duas mais velhas).
Daí minha surpresa e até indignação diante de mulheres que ainda se comportam como se nunca tivesse havido uma queima de sutiãs. Em outras palavras: enquanto tantas mulheres lutam por eqüidade de direitos e deveres, por respeito e dignidade, outras tantas desenvolvem uma espécie de “falolatria”, com o perdão do neologismo. São geralmente jovens — algumas muito bonitas — que consideram os homens como bens supremos a conquistar e a manter a todo custo.
Ilustram bem esse tipo as chamadas marias-chuteiras, garotas que se especializam em seduzir jogadores de futebol de olho no dinheiro e no sucesso deles. Uma vez alcançado o objetivo, tornam-se parasitas. Dependem do homem para tudo. Não raramente, diante da dificuldade ou da impossibilidade de se casarem de papel passado com um superatleta, engravidam de um deles e garantem, assim, uma gorda pensão para o resto da vida.
Em “Avenida Brasil”, a telenovela das 21h da Rede Globo, a atriz Ísis Valverde interpreta a maria-chuteira Suelen. Linda, sensual, sedutora, ela já foi para a cama com metade do fictício bairro do Divino. A meta da garota é fisgar um jogador que, tão logo suba à primeira divisão, dê a ela vida de rainha. Em troca o que ela oferece? Sexo. Não necessariamente exclusividade. Muitos, como se sabe, caem na conversa ou porque são ingênuos ou porque não se incomodam de comprar mulher, desde que seja gostosa.
Marias-chuteiras talvez sejam exemplos extremos. No cotidiano, há casos mais discretos. Não faltam mulheres por aí que engravidam do namorado para garantir um casamento. Aplicam o conhecido golpe da barriga. Outras, ainda que não sejam exatamente golpistas, transformam os homens em objetos de desejo absoluto e fazem de tudo para conquistá-los e mantê-los. Mesmo quando têm independência financeira, não têm independência emocional. São parasitas do mesmo jeito.
Claro que todo o mundo tem o direito de buscar um companheiro ou companheira! Só que essas “antifeministas” pegam pesado. Fazem chantagem. Usam e abusam do sexo, da manha, das lágrimas. Pouco se importam com eqüidade de direitos e deveres. Querem mais é viver em função do homem. Costumam ser possessivas. Levam a tal “falolatria” ao extremo da perseguição e, pior, da liqüidação da própria autoestima. Sustentam a imagem que tantas feministas batalham há décadas para apagar.

Simone de Beauvoir (1908-1986)
Vejo por aí, em todas as classes sociais, mulheres e jovens que não têm a menor idéia do que significa eqüidade de gênero. Nunca ouviram falar de Simone de Beauvoir. Como a Suelen da novela, alimentam o estereótipo da mulher bonita e burra, do sexo frágil e, ao mesmo tempo, da espertalhona. Mantêm vivo o machismo. Paradoxalmente, perdem também o respeito daqueles que elas mais desejam: os homens. Afinal, hoje em dia, muitos simplesmente desprezam mulheres dependentes (financeira ou emocionalmente). O tiro sai pela culatra.
Para encerrar, cito o caso de mais três personagens de “Avenida Brasil”: Verônica (Débora Bloch), Noêmia (Camila Morgado) e Alexia (Carolina Ferraz). As duas primeiras descobriram recentemente que tinham o mesmo marido, o malandro Cadinho (Alexandre Borges), o qual mantinha um caso com a terceira. Num primeiro momento, a indignação levou as casadas a expulsar o marido bígamo de casa e a punir publicamente a amante. Passada a raiva, estão prontas a brigar por Cadinho, como se ele fosse um troféu.
Será que isso só acontece em novela? Feministas, luzes, câmera, AÇÃO!!!