Rio+20 e muito +

Tive o privilégio de participar da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. Sim, privilégio. Para mim, a Rio+20 não era apenas o encontro de chefes de Estado e de governo, nem só de líderes e representantes de organizações não governamentais e empresas. Era isso e muito mais.

Era principalmente o motivo de eles estarem ali, era o tema em discussão. Mobilizar mais de 40 mil pessoas, de quase 200 países, durante quase duas semanas, em torno do desenvolvimento sustentável, é um feito e tanto!

As reuniões no Riocentro, onde aconteciam as principais negociações intergovernamentais, começavam cedo e avançavam noite adentro. Critique quem quiser, mas ninguém faria isso se não tivesse interesse em debater seriamente o assunto. Apenas para ganhar diárias? Ora! Aos preços praticados no Rio, que lucro alguém poderia ter? Melhor seria, então, realizar conferências menores em paraísos tropicais onde sobrassem tempo e dinheiro para aproveitar a praia ou a vida noturna!

No Riocentro, longe do mar, milhares de pessoas, vestidas de tailleurs, paletós, gravatas e sapatos apertados (alguns de salto!), passavam no mínimo 10 horas diárias longe do sol, sob um gélido ar condicionado, mergulhadas em complexas discussões. Ao final do dia, estavam exaustas. Não tinham mais ânimo para se esbaldar em uma boate ou encher a cara em um boteco, até porque precisavam madrugar no dia seguinte. Um ou outro pode ter conseguido a proeza de se aventurar na noite carioca, mas acho improvável que a maioria o tenha.

Quase todos os participantes da conferência estavam hospedados ou na Barra da Tijuca ou no Recreio dos Bandeirantes ou na Zona Sul. Tive a sorte de conseguir alugar um apartamento mobiliado, a um preço razoável para os padrões da Rio+20, exatamente em frente ao Riocentro. Andava alguns metros e estava lá. Muitos encaravam trânsito, congestionamentos. Alguns levavam até 2 horas para chegar. Um voluntário me disse que o deslocamento consumia 3 horas do dia dele.

Não havia comércio decente por perto. Era preciso se contentar com o que havia no próprio Riocentro, como uma praça de alimentação respeitável, mas naturalmente limitada. Havia caixas eletrônicos em abundância, mas nenhum supermercado digno do prefixo. A filial do Pão de Açúcar quebrava um galho, mas entre bolos e chocolates importados não vendia, por exemplo, pasta de dente. Portanto, definitivamente, ninguém estava ali para brincar. Mesmo que quisesse, não conseguiria.

Fora do Riocentro, a conferência também mexia com a vida da cidade, do país e até do mundo. Logo do lado, no Parque dos Atletas, exposições multimídia chamavam a atenção para o que os países, estados e cidades vêm fazendo pelo desenvolvimento sustentável. Gostasse ou não, o visitante tinha a oportunidade de formar uma opinião ou, no mínimo, parar para pensar em tudo aquilo. No Aterro do Flamengo, a Cúpula dos Povos bradava as insatisfações da sociedade civil organizada de várias nações, e a Arena Socioambiental convidava ao debate e ao consumo sustentável, assim como o charmoso Píer Mauá.

Na Rio+20, não fui um negociador, nem um ativista. Fui uma espécie de articulador entre pessoas ligadas à comunicação. Portanto, exerci uma atividade-meio, não uma atividade-fim. Talvez por isso, para mim, as críticas aos resultados da conferência não tenham o mesmo peso que têm para aqueles que atravessaram madrugadas dispostos a encontrar saídas, consensos. De qualquer forma, solidarizo-me com eles. Acho que nenhuma tentativa, nenhum esforço sincero é em vão. O tempo mostrará isso.

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