Dr. House e eu.

Descobri tarde o seriado “House M.D”. Estava na locadora à procura de mais um DVD quando deparei com ele na estante. Lá estavam cinco temporadas completas. Aluguei quatro discos da primeira. Não esperava ficar tão viciado em House quanto ele em Vicodin. Foi paixão à primeira vista. Não parei mais de vê-lo. Fui alugando os próximos DVD do seriado a cada fim de semana.

Dr. House passou a ser um dos temas prediletos de minhas conversas com amigos.  Um deles tornou-se fã do seriado por influência minha. Descobri outros aficionados. Curiosamente, nunca lhes perguntei por que gostam tanto do Dr. House. Farei isso na primeira oportunidade que tiver. Até porque, se me fizerem a mesma pergunta, poderei responder-lhes de prontidão.

 

Gosto tanto de Dr. House primeiramente porque me identifico com ele. Talvez outras pessoas também se identifiquem, talvez ele expresse sentimentos e pensamentos que muitos de nós temos, mas não ousamos expressar. Talvez todos tenhamos um Dr. House dentro de nós. Esse tipo de clichê é previsível, e não me considero uma exceção.

Minha identificação com Dr. House, porém, não é indireta. Ajo como ele em diversas ocasiões. Tenho aquela mesma franqueza que tanto incomoda algumas pessoas. Geralmente, digo o que penso. Como ele, sou egocêntrico – ainda que não me considere egoísta. Acima de tudo, identifico-me com sua excentricidade. Um amigo já me disse que sou exótico.

No trabalho, também sou tão intuitivo quanto técnico. Como Dr. House, tenho insights. Meu jeito eventualmente peculiar de tomar decisões, meu comportamento às vezes heterodoxo, minha irreverência já me deram dor de cabeça no ambiente profissional – assim como êxitos também. Aliás, mais vitórias que derrotas, mais acertos que erros, e uma ou outra antipatia para temperar. Os bem humorados, porém, sempre me acolhem com simpatia e, nesse aspecto, sou bem diferente de House, pois tenho facilidade para estabelecer conexões, sobretudo com quem respeito.

Além da identificação, há outros motivos para eu gostar tanto de Dr. House. Ele é muito inteligente, e ver a inteligência em ação costuma instigar as pessoas, impressioná-las. Provoca admiração, um sentimento raro diante de tanta mediocridade por aí. À inteligência dele soma-se certa erudição. Dr. House tem leitura. Entende de música. Fala diversos idiomas. Como não poderia deixar de ser, possui profundos conhecimentos de Medicina. De quebra, ele ainda costuma acertar em suas análises psicológicas. Como não apreciar e admirar alguém assim? Chego a lamentar que ele não exista em carne e osso.

Também me encanta em “House M.D” – o seriado – a inteligência das histórias, o ritmo delas, a riqueza dos diálogos, o carisma dos personagens. Dr. Wilson é o amigo infalível. Dra. Cuddy combina perfeitamente condescendência, elegância e nobreza de caráter, temperadas com certa dose de fragilidade – especialmente diante do excesso de autoconfiança de House. Pena que tenha saído da série!

Dra. Cameron encarna bem a jovem médica, ambiciosa, competente, mas emocionalmente insegura, psicologicamente conflituada e sentimentalmente frágil. Dr. Chase seduz com sua aparente sensibilidade e discrição, mas também é ambicioso e eticamente pouco convincente, o que só o torna mais instigante.

Dr. Foreman também não esconde sua ambição. Seguro de si, permite-se ousadias. Compete com House. Desliza na ética no âmbito pessoal, mas a preserva no exercício da Medicina. A equipe do Princeton-Plainsboro Hospital, enfim, convence e sobre ela paira, claro, a figura de House, em uma brilhante interpretação do ator Hugh Laurie.

Antes mesmo de ler sobre a série, já suspeitava de que a personagem House tivera inspiração em Sherlock Holmes. As coincidências são inegáveis. Para começar, ambos são, cada um a sua maneira, investigadores infalíveis. Utilizam o mesmo método: a dedução baseada na observação atenta.

Os dois moram sós e não têm esposa (Holmes é solteirão, House, divorciado) nem filhos. Holmes toca violino e usa ópio quando deprimido e sozinho. House toca piano e guitarra e tornou-se dependente de Vicodin. O melhor amigo de Holmes é um médico, Dr. John Watson. O melhor amigo de House também é médico, Dr. James Wilson – ambos levam no nome as iniciais JW.

Diante de tantas semelhanças, talvez não seja absurdo supor que o nome House (casa, em inglês) também tenha se inspirado em Holmes (“home”, sem o “l”, em inglês, significa lar ou casa). Se Holmes desvenda crimes misteriosos, House desvenda doenças misteriosas.

Sou fã incondicional de Sherlock Holmes. Li todos os livros com suas aventuras, saídas da mente criativa de Arthur Conan Doyle. Pretendo assistir a todos os episódios da série House M.D.

Acho que aprendo com ele. O que ele tem de excesso, posso tentar evitar. O que ele tem de brilhante, posso tentar imitar – na medida do possível, é claro. O que temos em comum contribui para meu autoconhecimento.

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