Luíza, que está em todo lugar.

Hesitei antes de tocar neste assunto aqui. Afinal, para muita gente, o bordão “Menos a Luíza, que está no Canadá” já saturou. Por outro lado, a explosão dessa brincadeira nas redes sociais e na imprensa em geral despertou a atenção de muito mais gente, que ainda não tinha se dado conta da inesperada fama da tal Luíza.

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Luíza Rabello, celebridade sem querer.

Minha primeira e principal formação é em Comunicação Social. Não poderia ignorar o que, para mim, parece um genuíno fenômeno de mídia. Até muito pouco tempo atrás, um bordão só caía na “boca do povo” quando uma celebridade ou uma emissora de TV aberta (ou ambos) o lançava simultaneamente para milhões de brasileiros.

Jô Soares explorou isso durante anos em seu “Viva o Gordo”, por exemplo. Quem não se lembra, na década de 1980, das expressões “muy amigo” ou “tem pai que é cego”? Colaram como chiclete na boca dos brasileiros. Outros comediantes lograram o mesmo.

As novelas, então, têm sido pródigas em lançar bordões! O carioquíssimo “É ruim, hem!” grudou na língua e nos ouvidos durante anos, especialmente graças a um personagem de novela, um menino por sinal.

Mais recentemente, Cristiane Torloni lançou à moda, sem querer, o vocativo “bebê” após uma entrevista nos bastidores do Rock in Rio. Aguinaldo Silva, autor de “Fina Estampa”, na qual Torloni é a vilã, teve senso de oportunidade e incorporou o bordão à personagem da atriz, a poderosa e perversa Tereza Cristina, que agora vive a dizer “bebê” ao concluir seus comentários seja sobre o que for.

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Tereza Cristina e Crô

A popularidade da expressão “Menos a Luíza, que está no Canadá” e, por conseguinte, da própria Luíza, que foi parar em telejornais da Rede Globo, não me incomoda. Muita gente reclama. Diz que esse assunto é fútil demais para ocupar tanto espaço nos meios de comunicação. Pode ser. Mas acho que deve haver, sim, nos mass media, espaço para o pitoresco, sobretudo se o fato tiver valor-notícia, como se diz em Teorias do Jornalismo.

Uma desconhecida família nordestina (ou seja, fora do prestigiado eixo Rio-São Paulo) grava um comercial, e o pai menciona a ausência da filha que está no Canadá. Isso gera milhares de comentários nas redes sociais a ponto de virar bordão utilizado em diversas situações, já fora do contexto original. Ora, se tudo isso não tiver valor-notícia na sociedade da informação, o que mais teria? É indiscutivelmente um fenômeno. Vale lembrar que não houve premeditação. Foi tudo espontâneo.

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Gerardo Rabello, pai de Luíza

Compreendo que os mais elitistas se incomodem diante de frases repetidas à exaustão. Por outro lado, acho importante reconhecer que pode e até deve haver espaço para o pitoresco, para o humor, para a leveza e até para o nonsense no noticiário. Por que só poderia haver lugar para crises econômicas, corrupção na política, falência no sistema de saúde, tragédias aéreas e em alto mar, entre outras notícias do mundo-cão?

Às vezes, suspeito de que há, em certos meios, preconceito contra o riso, contra o humor gratuito. Por que tudo tem de ter caráter pedagógico positivo? O excesso é um risco que tudo e todos correm: seja por seriedade, seja por descontração. Ademais, reclamar só alimenta a fogueira que se quer apagar. O tempo se encarrega sozinho de mudar o assunto. Enquanto não muda, melhor levar Luíza na brincadeira.

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