Quis a natureza que eu amadurecesse com poucas rugas e quase nenhum fio de cabelo branco. Tal como meu pai.
O fato de não estar com a pele muito marcada nem ter a cabeça grisalha não evita, porém, que eu lamente a pressa do tempo. Afinal, ele me atropelou.
Subitamente, dei-me conta de que – a seguir-se a tendência natural – as traças devorarão meus livros antes que eu tenha tempo de lê-los todos.
Já fiz as contas. Não dá mais. Eu precisaria ler pelo menos um livro por dia para me gabar de ter devorado toda a minha biblioteca.
É chegada a hora de selecionar o que ver, ouvir, dizer, comer, experimentar, fazer. A seleção inclui também pessoas e lugares. Não há mais tempo a perder.
Sim, eu sei que, exceto por um acidente ou uma doença, ambos fatais, ainda poderei ter décadas de vida.
De qualquer forma, parece-me assustadora a ideia de envelhecer. A menos que eu me mantenha em bom estado de conservação, prefiro morrer antes.
Não gostaria de experimentar certos desconfortos e constrangimentos. Parabéns a quem pensa diferente, mas assim sou eu. A decrepitude me apavora.
Sou um sujeito hiperativo. Até pouco tempo atrás, era um tipo tão festeiro que, todo sábado, saía de casa às 22 h e só retornava às 6 h de domingo. Agora isso é menos comum.
Estive em todas as regiões do Brasil, passeei pelas Américas, pela Europa e cheguei a pisar um país da Ásia. Vi lugares magníficos! Alguns sem graça também. Valeu a pena.
Certamente, falta muito chão para eu pisar, mas não me sinto mais obrigado a fazer turismo pelo turismo. Viajo quando dá e não sofro quando não dá.
Os consoladores de plantão poderiam me dizer que há muita experiência pela frente, tal como ser pai ou morar muitos anos fora do Brasil ou ter uma longa história de amor.
Que fique bem claro: não preciso de consolo. Estou convencido de que minha vida é mais interessante do que a de muita gente.
Vou além: mesmo quem viveu mais de 100 anos não pôde ter todas as experiências disponíveis no mercado. Eis algo humanamente impossível.
Em “Gulliver’s Travels”, Jonathan Swift expõe com brilhantismo a situação de um homem imortal: ele já não suporta a angústia de ter vivido praticamente tudo.
No romance, intitulado “As Viagens de Gulliver” em português, a experiência desse homem é ocasião para interessante digressão filosófica sobre os limites da vida.
A maioria das pessoas que conheço afirma desejar viver o máximo de tempo possível. Posso apostar que implorariam pela morte se chegassem aos 150 anos.
Os limites de cada um variam. Eis a questão. Os meus são menos elásticos. Não faço questão de envelhecer. Se morresse hoje, admito que não me incomodaria.
Certa vez, minha mãe me disse: “Meu filho, não há dor maior para uma mãe que a perda de um filho, mas, se você morresse antes de mim, eu teria um consolo”.
“Qual? ”, perguntei. “Você viveu, viveu muito, aproveitou extremamente a vida! ”, ela me respondeu sem tom dramático na voz.
Curiosamente, mesmo sendo minha mãe, ela nem sempre parece me conhecer a fundo. Naquele dia, porém, ela demonstrou o contrário e me deixou muito feliz.
A verdade é que sou presenteísta. Vivo o aqui-e-agora. Penso pouco no futuro. Só faço isso por necessidade, nunca por satisfação.
Encerro este texto com uma última observação: a despeito de parecer um pouco mórbido, niilista e desapegado da vida, há algo que me encanta. Sabe o quê?
As surpresas. O inesperado me fascina porque rompe com a mesmice, embaralha as cartas do cotidiano, reduz minha arrogância, prova que o controle é uma ilusão.
Há, claro, surpresas negativas. Mesmo elas, contudo, trazem o consolo da mudança de rumo, da súbita ruptura com a rotina e o tédio. As agradáveis somam o bom e o melhor.
Admito que brigo com a vida. Ela faz muita bobagem por aí. Talvez erre mais do que acerte. Mas, entre rugas (felizmente poucas) e rusgas (infelizmente um bocado), sigo meu norte, minha sorte, até que a morte me separe de tudo e de todos.
Lindíssimo texto! Espero de ter entendido tudo o que você escreveu. Eu penso de mim uma coisa: eu aproveitei de toda a minha vida e agora não posso pedir nada mais. Eu poderia morrer hoje sem problema nenhum, eu não quero viver demais. Espero sempre de não envelhecer sem perder a minha autonomia. Não quero incomodar meus filhos. Eu odeio os médicos e não tomo remédios, o único remédio é para controlar a pressão arteriosa. Há uma coisa que me faz medo; deixar minha esposa na dor e sozinha, ela sempre me diz “eu quero morrer antes de te” e então eu queria fazer de tudo por fazer isso. Não depende de mim mas de Deus. Porém, visto que ultimamente não estou muito bem, contrariamente aos meus pensamentos sobre os médicos, logo vou fazer um controlo médico. É um jeito de amor por ela. Em aparência estou em saúde mas como estou-me aproximando aos seitenta tudo pode acontecer. A situação política e social do meu país (Itália) é péssima e estou sempre em ânsia. A coisa que me faria feliz de verdade é morrer cinco minutos depois da minha esposa. Um abraço!
Grazie, Daniele! Belas (e sinceras) palavras as suas também.
Lu, acredito q já conversamos sobre o tema e, como vc, tenho horror à decrepitude. Me apavora a possibilidade de envelhecer com sofrimento. De qualquer forma, sei q não tenho controle sobre isso. Ninguém tem. Há 8 anos, tb não me incomodaria tanto o fim da vida. Apesar de ter ainda muitos projetos a realizar e muitas experiências q quero viver. Mas, após a maternidade, passei a pensar diferente. O fato de deixar minha pequena me traz medo, apreensão e angústia. Mas tb me faz dar mais valor ao presente. Hj vivo um dia após o outro. Bj
Grato pelo comentário, Moura. Entendo seu ponto. Um filho ou filha faz toda a diferença! Bjs.
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