No Brasil, a mais popular das redes sociais, o Facebook, está inundada de mensagens de estímulo, de amor à vida, de conselhos para se viver bem, de receitas de felicidade. Nesse terreno, com o perdão do trocadilho, impera o imperativo: “Perdoe!”, “Ame!”, “Celebre a vida!”, “Cante, dance, viva o momento!” etc., etc., etc. Longe de mim criticar quem divulga esses posts! Só me permito expressar uma dúvida: quem realmente pratica o que publica?
Até acredito que muitos sigam os conselhos que distribuem na web. Vejo, aliás, como positivo o mero gesto de se disseminarem na rede lições de amor, ao invés de ódio (ou polêmicas inúteis). Melhor ler um post florido que convide a amar o próximo que abrir um com palavras de ressentimento ou de incentivo ao bate-boca. No entanto…
Parece-me inegável o teor ingênuo de certas mensagens. Neste mundo, nestes tempos, não percebo o menor sinal de que a maioria realmente leve para a realidade o que prega nas redes sociais da internet. Até porque, em muitos casos, isso é impossível. Há mesmo situações em que a mensagem, por mais bem intencionada que seja, não resiste a uma reflexão mais profunda (às vezes, nem a uma reflexão superficial…).
Um único exemplo (poderia fornecer centenas): “Gentileza gera gentileza” – a célebre frase do Profeta Gentileza (1917-1996), que enfeitou muros e viadutos cariocas com suas inscrições pacifistas. Até acredito que a gentileza possa, sim, gerar gentileza, mas não sempre ou necessariamente. Isso está longe de ser uma regra. Alguém pode ser gentil e receber grosseria em troca – talvez até com bastante frequência.
Adeptos de religiões em geral são pródigos em utilizar as redes sociais para disseminar suas idéias, naturalmente baseadas em suas crenças. Legítimo. Por que não? Acontece que insisto neste ponto (bastante surrado, por sinal): um exemplo (ou um ato) vale mais que mil palavras. Observo que há pessoas rancorosas, briguentas, hipersensíveis que espalham sobejamente mensagens sobre compreensão, perdão, amor ao próximo. Como assim?! Onde está a coerência?
Há casos em que, sinceramente, desconfio de que os tais posts magnânimos ou aqueles voltados para encorajar a autoestima são, na verdade, uma forma de o internauta reforçar a mensagem para si próprio. Ele publica aquilo que ele mesmo precisa ouvir, ler, aprender, praticar enfim. Pode haver também a situação em que ele divulga algo de que necessita se convencer. Acredito até que alguns façam isso inconscientemente.
Reitero que não desaprovo, censuro, muito menos zombo de quem publica mensagens de paz e amor nas redes sociais ou onde quer que seja. Chego a curtir muitas delas — com sinceridade. Viva a liberdade de expressão! Viva o bem-querer!
Entretanto, permito-me registrar a opinião de que, por mais cordiais, gentis, meigas, doces, “fofas” que sejam certas postagens nas redes sociais da web, elas só farão realmente alguma diferença se partirem de pessoas que ao menos se esforcem para seguir o que pregam. Caso contrário, essas publicações só terão valor pela intenção e, de boas intenções, bem… Já se sabe…