O triste fim da língua inglesa (parte 2).

Pensar na própria língua e comunicar-se em outra pode ser fatal. Para o inglês, o idioma mais popular (ainda que não o mais falado em termos populacionais), essa foi uma das principais causas de seu passamento prematuro. Sim, prematuro! O inglês poderia ter sobrevivido mais alguns séculos se milhões de estrangeiros não o tivessem esculhambado até o limite.

English_is_dead

 

Em artigo anterior, dei exemplos da crueldade contra o idioma de Shakespeare. Leitoras e leitores escreveram para mim com outros tantos. A situação chega a ser tragicômica. Às vezes, suspeito de que os ingleses, irlandeses, escoceses, estadunidenses, canadenses, australianos, neozelandeses, sul-africanos e demais nativos da língua inglesa mundo afora não têm a verdadeira dimensão do que o resto do planeta fez com o idioma pátrio deles. Possivelmente, ainda acham que ele vive. Pobrezinhos…

 

Agora, Inês é morta – ou talvez fosse melhor dizer “Now, Ines is dead”, como diriam alguns lusoparlantes dispostos a jogar uma pá de cal sobre o túmulo da língua inglesa. Não há mais saída. Não há mais jeito. Como disse na parte 1 de “O triste fim da língua inglesa”, a disseminação do idioma de Chaucer gerou contaminações e infecções incuráveis. De lingua franca a língua fraca, foi um pulo. “Now, English is dead!”.

 

English-is-now-dead

 

Para encerrar este assunto, que me causa tanto dissabor e tristeza, delato mais alguns exemplos, agora menos óbvios, que contribuíram para a morte da língua inglesa:

 

  • I live here since 2010 (O correto seria dizer: I have lived here since 2010).
  • I’m not dog no! (Quem não conhece a música: “Eu não sou cachorro, não!”? Uma possível versão em inglês seria “I’m not a dog at all!”).
  • Could you reserve two places for me, please? (O mais adequado seria: “Could you reserve two seats for me, please?”. Ou, no caso de dois lugares à mesa: “Could you reserve a table for two, please?”).
  • I want to make a DDI to Brazil, please. (Essa é dos velhos tempos. Em hotéis no exterior, havia quem achasse que soletrar siglas brasileiras em outra língua resolveria o problema. Uma telefonista americana, por exemplo, não teria a menor idéia do que o sujeito queria. A chamada DDI – Discagem Direta Internacional à Distância, agora praticamente superada por outros meios mais modernos e gratuitos, em inglês de respeito seria “a long distance call”.)

 

"I'm not dog no!", diverte-se o cantor Falcão.

“I’m not dog no!”, versão do cantor Falcão para “Eu não sou cachorro, não”, de Waldick Soriano.

 

A gente zomba, mas sabe, no fundo, que também foi capaz de, em algum momento, mesmo que por distração, cometer esse tipo de crime contra o inglês e outras línguas estrangeiras. Melhor parar por aqui. Se eu for discorrer sobre o tal do “portunhol”…

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